"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

quarta-feira, 26 de maio de 2010

POEMAS RECÉM-NASCIDOS


NAU FRÁGIL

Que importa o mar
Pontilhado de amarelo
E a cidade estrelada de baixo para cima?

A ponte que nada atravessa,
Com suas costelas férreas e finas.
Longas, visíveis, viscerais?

De que adianta o céu límpido
A lua nova vestida de pérolas
Ou as nuvens penduradas em varais
Nos cumes da ilha?

Que importam a beleza,
A quietude, as maravilhas,
Se a cabeça dói como o diabo
E a alma amedronta a noite
Com seu silêncio pesado?

Que importa a paisagem
Se tudo é passagem
E o que resta é a ponte fechada
Ligando o nada ao ignorado?

Que importa, afinal,
O olhar do homem que, sentado,
Tenta iluminar a noite
Com seus olhos?

Que importam a pergunta e a resposta
Se só a ignorância salva?
Importam os dedos frios?
Importam as mãos alvas,
Quando tudo mais é desconforto?

De que vale o pleno governo sobre o corpo
Se a cabeça dói e a alma, em coro,
A acompanha?

De que servem a ilha,
O continente
E meu olhar que os apanha
Se nada é capaz de me salvar?

- De resto é o mar...

Dentro, fora,
Em todo lugar.
(Afogando a calma,
Fazendo-a afundar).

terça-feira, 25 de maio de 2010

POEMAS TARDIOS


CONTRAPONTO

De um lado o peito
Do outro a mão
No meio
A faca.

De um lado o efeito
Do outro a ação.
No meio
A faca.

De um lado o feito.
Do outro a ilusão.
No meio
A faca.

De um lado o peito
Do outro a mão.
No meio, não!
A faca, não!

O corte estreito,
A incisão
E o cabo
(Uma estaca).