Pássaros de porcelana
Recitam odes sacrílegas com seus bicos dourados;
Odes ao silêncio sacrílego-ensolarado.
E o dia desprovido de defeitos
Impera.
Perto daqui um cemitério de máquinas
Com toda espécie de metais
Aguardando o digno sepultamento.
As orquídeas do vaso
Antigas que são, se aquietam
E murcham
Canto para a maquinária desolada
Espíritos inanimados em completo abandono;
Canto para alegrar-lhes a ida,
Embora seja tarde.
Canto para os pássaros de porcelana
Estáticos, invejosos das aves libertas;
Canto para que tentem sacudir as plumas
Inventadas.
Canto para as orquídeas mumificadas
Nobres, apesar de murchas,
Canto para que se despeçam
De seus cachos.
E o dia isento de imperfeições
Parece desconfiar
Que canto sozinho.
Parece ter certeza
De que canto sozinho;
Canções imóveis, valsas
E réquiens.
[Dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]