"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

terça-feira, 30 de junho de 2009

DA SÉRIE: POESIAS INACABADAS


VOLATILIDADE

Pára o turbilhão de folhas verdes levadas pelo vento,
Arrancadas dos galhos à força.
Pára a vontade recôndita que tens de te meteres no átomo
Para fazê-lo deflorar,
Pára com a vaidade terrível de teus olhos pintados
E de tua boca vermelha
E de tuas unhas longas, afiadas.
Pára vida, de te esfregar nas minhas costas,
De te enlaçar nas minhas coxas,
De beber de mim.

Um no outro, um no outro. Consumimo-nos.
São fios de minha pele, os meus cabelos, tecendo o teu destino
E a sua tesoura arrematando o meu.

Um no outro, um no outro. Opiáceos, alucinógenos.
Eu te aspiro, aprisiono em minhas células remotas, órgãos falíveis.
Te expiras em mim. De mim.

Dissolvemo-nos mutuamente.
Éter e fogo.
Gás.
(E silêncio).



Terminada em Recife-PE, 30 de Junho de 2009, são 9h45. Apesar de ter caído o acento no verbo “parar” eu continuo revoltado com o fato e o mantenho. Bem verdade que tenho alguma razão para isso, uma vez que o poema quando começou a ser escrito, fazia jus ao benefício da acentuação. O tempo acaba com tudo, até com os bons sinais gráficos.

Esse poema é antigo e provavelmente continha alguma intenção especial, distinta da que lhe foi oferecida por ocasião desta hora. Ocorre que essa intenção deu lugar a outra.

Chamo isso de retomar assuntos antigos. Muito embora, na maioria das vezes, não se tenha a menor idéia do ponto estacionário anterior, considero produtivo o esforço para resgatar a motivação inicial.

Dessa união entre desejo antigo e ansiedades presentes sempre nascem filhos híbridos. Experimentos poético-científicos eu diria.

As poesias inacabadas constituem uma série de escritos renegados, os quais darei, oportunamente, a esse Blog.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

20COISAS

20COISAS QUE EU ODEIO NA TELEVISÃO:

1 – Exorcismos ao vivo, apelação religiosa e comércio da fé... Nada contra a crença alheia, mas alguma coisa me diz que estamos vivendo uma reedição da era negra do cristianismo, onde as indulgências eram compradas. O que acontece hoje é muito semelhante, só que o alcance da televisão é muito maior e a lavagem cerebral é consideravelmente mais eficiente;

2 – Jornalismo sensacionalista... Balanço do crime, resumo da violência, contagem de cadáveres e os comentários pseudo-revoltados dos(as) apresentadores(as). É uma lástima...

3 – Programas que exploram a miséria e/ou o ridículo alheios. O artista que já foi famoso e está na pior, a família que teve seu barraco levado pela enchente, a mãe que vive em meio a filhos desajustados, a mulher que é espancada, o desempregado, a travesti com o famoso, a travesti sem o famoso, a grávida pedindo exame de DNA ao pagodeiro etc etc...

4 – Os apresentadores dos programas descritos no item 3. Esses são os verdadeiros carniceiros, animais selvagens que se alimentam da vítima enquanto ela ainda está quente... Protegidos pela aparente boa intenção (da qual você sabe bem o quê está cheio), exploram a miséria com um prazer sádico, maldade refinada e intervenções que a ninguém convencem;

5 – Propaganda eleitoral gratuita. Aquilo que deveria ser um poderoso instrumento, facilitador de decisões, tornou-se o circo do descrédito. Não pura e simplesmente pela natureza dos programas (cujas produções têm sido cada vez mais cuidadosas e profissionais), mas pela própria essência do que vem se tornando (salvo raras, raríssimas exceções) a classe política nesse país;

6 – Novelas que têm pretensão de salvar o mundo, melhorar as relações humanas, reduzir o aquecimento global, encontrar a cura para a AIDS, ensinar a fazer renda e a namorar... Autores que se perdem em meio às duas dúzias de clichês e assuntos polêmicos, sem terem a menor noção de como darão cabo deles;
7 – Falta de peito para levar ao menos uma dessas polêmicas ao extremo, de concluí-la e agüentar as conseqüências de tê-lo feito;

8 – Programas cujo humor (nigérrimo) se fundamenta na chacota, na humilhação e/ou na desgraça alheias. O cume do mal gosto não reside no fato de rir das (próprias ou alheias) desgraças que isso, aliás, é bem saudável e torna a vida menos pesada, mas em não saber até onde o bom senso permite que se continue a rir;

9 – Programas de auditório no domingo à tarde. (!!!) Algo pior?

10 – Dublagens dos canais americanos de venda. Sem sincronia, com uma divisão silábica impensável na língua portuguesa... De tão ruim chegam a ser engraçados (vale como diversão trash);

11 – Séries que teriam tudo para serem perfeitas se fossem até, no máximo, a terceira temporada...

12 – O rótulo de “inédito” para um filme somente pelo fato de que ele jamais foi exibido naquele determinado horário (mas já o foi em todos os demais da emissora);

13 – Programas humorísticos com claque. Cá entre nós, se é engraçado não precisa claque, não é?
14 – Bordões metidos a engraçadinhos, repetidos aleatoriamente, sem qualquer contexto, sob a fervorosa torcida da produção do programa para que caia no gosto popular;

15 – Jornalismo com notícias recicladas;

16 – Apresentadores, entrevistadores e afins metidos a engraçados e que, ao contrário do que deveriam, comportam-se como as principais estrelas de seus programas, querendo brilhar mais que seus convidados;

17 – Jornalismo tendencioso, pouco crítico ou excessivamente crítico. Partidarista, parcial, volúvel, dinheirista...

18 – Programação repetida exaustivamente, num modelo que é mais os menos o seguinte: uma parte do programa da manhã se torna um quadro no programa da tarde e ambos fazem parte do programa da noite. Falta de criatividade ou pouco dinheiro para produção;

19 - Gente que incentiva crianças a imitarem adultos. Maquiadas, com roupas curtas e vulgares, encorajadas a se comportarem como pessoas maduras (os piores exemplares delas, aliás);

20 – Adultos que se comportam como crianças (ou como loucos, vai saber...).

20 COISAS


20COISAS IMPORTANTES NA VIDA:

1 – Um amor para a vida inteira, com quem se tenha prazer em dividir o tempo, a existência e os lençóis;

2 – Amigos. Os de muito tempo, os de pouco tempo... Até aqueles que ninguém acredita que possam ser seus amigos. Amigo dá um outro sentido à vida porque compartilha de boa parte de nossas loucuras, mas, normalmente, não é contaminado por nossa cegueira;

3 – Uma família bacana que esteja ao seu lado mesmo não estando do seu lado (entende?). Pessoas cujos laços de amor e cumplicidade sejam maiores que os sangüíneos;

4 – Uma mania. Pelo menos uma... Ninguém que possa ser considerado normal tem o direito de bater no peito e garantir que não tem mania alguma... Mania empresta uma certa personalidade;

5 – Água. Isso mesmo, água! Coloquei isso no orkut recentemente e me achei meio bobo, mas, o que vou fazer? Existem pessoas que são viciadas em chocolate, outras em cigarros, drogas, álcool... Eu sou viciado em água;

6 – Um drink (Não, não é para matar a sede. Para matar a sede eu quero é água mesmo). Um drink sem local e hora, sem formalismos. Pode ser uma cerveja, uma caipirinha, um whisky. Seja lá o que for, mas tem de ser algo que dê prazer, na hora em que se tem vontade...

7 – Abraço forte. (Ponto!);

8 – Demonstrações de carinho, de afeto, de amor... Cada uma a quem lhe caiba, de acordo com a dose de merecimento;

9 – Bom humor. Sempre! A vida já tem suas dificuldades, formalismos, carrancas, desafios e obrigações. Acredito sinceramente que a gente escolhe como quer viver. Uns arrastam correntes, outros deixam sorrisos para trás;

10 – Fazer o bem. É, eu sei, parece piegas, inocente demais, especialmente para os nossos dias... Não estou dizendo que se deve sair em uma cruzada diária em busca de realizar boas ações. Acho que melhor para esse tópico seria: não perder uma chance de fazer o bem. Isso! Gostei;

11 – Escrever. Sem medo, sem amarras, sem limites e sem rodeios... É meu vício, minha doença, a primeira de minhas necessidades elementares, muito embora disciplina não combine com inspiração e vice-versa;

12 – Vinho. Em boa companhia (ou sozinho, pelo simples prazer do vinho). Cá entre nós, não percam tempo tentando descobrir qual o melhor vinho. O grande segredo é escolher aquele que nos dá prazer. Com certeza esse será o melhor de todos;

13 – Feijoada. Sei que muita gente vai torcer o nariz. Paciência. É uma fraqueza humana à qual me entrego ao menos uma vez por mês;

14 – Distração. Coisas bobas que não acrescentam, mas tornam a vida mais leve. Ninguém agüenta conversas sérias e profundas o tempo inteiro... Boas dicas: desenho animado, internet, televisão, cinema no meio do dia...

15 – Informação. Estar familiarizado com o que está acontecendo é muito importante, especialmente tendo a chance de acompanhar, em tempo real, tudo o que acontece no mundo;

16 – Ler. Por prazer e o que estiver com vontade;

17 – Caminhar na praia molhando os pés na espuma;

18 – Otimismo. Não o otimismo dos que esperam que a milagres aconteçam sozinhos, mas uma profissão de fé fincada sobre a certeza de que somos capazes de mudar as coisas (para melhor, sempre);

19 – Fé. Acreditar que existe alguém, algo, alguma força que seja superior a nós, que nos sirva de modelo, que possa ser um exemplo a ser seguido e um caminho a ser trilhado. Fé não é religião, é uma forma de dar certidão de nascimento à alma;

20 – Entender que a graça da vida reside no fato de que tudo muda, tudo está em constante processo de expansão (ou retração, vai saber). Que essa minha lista, por exemplo, pode mudar algum dia (ou amanhã), por isso mesmo eu a estou publicando agora, enquanto ela tem sentido e razão de existir...

E para você, quais são as 20COISAS importantes na vida?

DA SÉRIE: POESIAS INACABADAS.


SEMÁFORO

A vida não para.

Podem ruir as paredes de teu castelo
E irem ao chão as telhas de teu sobrado,
Ou rolar por terra teu muro de pedra-canga
Que, com a calma dos que aceitam o afogamento
E se vão afundando,
A vida segue - te engolindo.

(Em Recife-PE, 29 de junho de 2009, são 9h49. Esse poema esteve pronto durante muito tempo - não sei desde quando - e eu, ingenuamente, pensei que lhe faltasse algo. Agora entendo que não. Não cabe! Só o título, foi o que me saltou hoje, como um louva-a-deus).