[Imagem: Orpheus - Franz von Stuck
Vídeo: Poema - Ney Matogrosso]
Mesmo as pedras, que de tão imóveis lacrimejam musgo -
Lamentos pela liberdade que não têm -
Sabem e pensam e aspiram asas;
E se pudessem seriam igualmente aladas, ainda que não se elevassem.
E se pudessem seriam igualmente aladas, ainda que não se elevassem.
Uma pedra de beira-mar é capaz de contar todo o oceano
Em um único verso. Um verso de vai-e-vem.
Uma pedra de penhasco contaria o vento, em assovios.
Desde a primeira idade, quando sente o assombro de si, por existir,
O ser humano realiza asas, espaço e desprendimento.
Todo homem nasce pássaro, nasce céu, só depois é que encarnece.
A gravidade se incumbe do voo; as penas, por penas se dão.
Faculdade amorfa, ânima cujo tênue esqueleto a ninguém se molda.
Pomba invisível arrulhando sobre as cabeças, cagando esperanças.
Liberdade.
Todo homem nasce livre e nu - envolto em sangue.
Todo o resto o engaiola.
[Dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]