[Imagem: Wrestlers -Thomas Eakins
Vídeo: A tanto duol - Do filme: O mestre da música]
Nos tendões resilientes se adensa a gravidade;
Para baixo, maças e alteres e âncoras arrastam.
Fibra após fibra arqueia a superfície da atmosfera
Em órbitas geocêntricas de se autoconsumirem.
Pisasse em gigantesco platô de puro mármore o marcaria
Com exuberantes pegadas; faria, de rastros, um desenho
Que em linha reta seria capaz de parecer com um alinhavo,
Delicadamente bordado na bainha pedregosa.
Mas o mármore deu lugar ao charco, assim como o platô,
Que fez-se, de acanhamento por tanta densidade, rente ao chão.
Atração magnífica que a terra exerce sobre os corpos,
Essa que traz o universo e o dependura na ossatura,
Fazendo rangerem alto as articulações, comprimirem-se os nervos.
Atração que impede a água de flutuar, os homens de serem vento.
Há dias em que a Via-Láctea ancora na planta dos pés,
Grativam, o ânimo e a determinação, próximos a buracos-negros.
Há dias em que a pele transpira correntes, e os cabelos,
Lisos ou em anéis, ganham matéria de lingotes ou de dormentes.
Há dias em que a massa orgânica cede ao assédio mineral
Para dar conta do peso que se lhe avoluma; cede ao bronze, ao granito.
Convergem do imo ondas de magma, nuvens de cinza radioativas.
Nesses dias se conhece de que substância é feito o homem,
E se separa, pela ação voraz dos elementos, os que derretem
Dos que se permanecem intactos – colossos metálicos,
Concebidos na forja das vicissitudes, de estar vivo e de pé.
Nesses dias carvão vira diamante. (Ou é absorvido pelas profundezas).
[Dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]