Quanto mais me benzo,
Menos me defendo.
Tende piedade
De minha cabeça a prêmio.
Muralhas claustrofóbicas que ergui
Para defender-me dos saqueadores.
De nada serviram,
Vez que tenha sido despojado.
Minhas bolas de gude,
Meus estilingues precisos
Tomados à força
Pelas falanges da idade.
Tende piedade
Pelo sono que dormi
Para crescer.
Árvores que escalei
Tornadas em lenha e cinzas.
Estradas de terra
Que se foram, em piche sufocadas.
Córregos onde minhas peneiras garimpavam
Peixes e resfriados,
Servem de canais para o esgoto
De recordar.
Enquanto golpeia,
Tende piedade
Por ter permitido que paredes gigantescas
Me separassem de minha história.
Tende piedade,
Mas bata!
Tende piedade
Sem deixar de arremessar
A sua cabeça contra a minha cabeça.
E na hora derradeira,
Que sucumbamos juntos
Sem ter esquecido.
Sem ter renegado nossa natureza.
5 comentários:
Tens razão, meu querido Agnaldo!
De nada valem as muralhas que erguemos: tudo nos é saqueado!
Tudo!
Não fica, sequer, uma boneca de trapo, uma bolinha de gude...
Com que sensibilidade você trata esse assunto!
Parabéns, amigo!
Enorme abraço
Zélia,
E vamos sendo, ao longo da vida, despojados de outras ilusões; graças a Deus que a lei das compensações preenche algumas lacunas.
De qualquer modo, sem os despojos não sobra espaço para novidades. O equilíbrio entre o que sentimos e o que podemos é o que nos mantém de pé.
Super beijo.
não há piedade, poeta;
é estranha a sensação de que a Natureza jamais saberá
do dentro de nós
que vão se desatando, desatando
Neuzza querida,
Saudade!!!
Não há mesmo piedade, mas piedade não é de todo bom. Alimenta a auto-comiseração, essa vício perigoso.
Nossa natureza pulsa por outras coisas e se debate contra a cabeças dos aríetes imaginários. E vamos vivendo, com galos, hematomas, mas vivos e despertos.
Super beijo.
Sinto-me refletida em teu espelho de infância. Ela é a minha também. Que lindo poema! Amei! Faz-me lembrar os muros que construí em minha volta. Cercas que não se diluem. Grande abraço, Solange de Paula
Postar um comentário