[Imagem: Angel of birds - Franz Dvórak
Vídeo: Ordinary Miracle - Sarah McLachlan]
Fui eu quem esperou por primaveras
Com flores inventadas em crepom,
Sustentou as frias estações
Com esperanças de papel.
Fui eu quem se comoveu com a tristeza sem batismo,
Uma a uma, com esmero e canetas hidrocor,
Batizou às pedras da arrebentação,
Escreveu em seus ventres nomes, para que parissem.
Fui eu quem primeiro amou a anágua da baía,
O branco tecido, vezes em que barcos o rasgaram em escuma.
Costurou-a com os fios de cobre do desterro,
Nela bordou confissões em ponto cruz.
Fui eu quem desvendou a alma dos galpões abandonados.
Disse-lhes que o musgo era tinta de esmeraldas
Para alegrar-lhes o vazio e a desolação.
Mentiu e colheu sorrisos de suas bocas destelhadas.
Fui eu quem escolheu gravetos para o fogo,
Folhas antigas para o amaríssimo chá;
Da areia fez equiláteros torrões de açúcar
E da escassez, dois ou três biscoitos amanteigados.
Fui eu quem acolheu o vento quando ninguém o quis.
Assumiu como sua a inveja das nuvens pelo sol,
Conduziu-as feito pastor a um curral de tempestades
Onde pudessem, recolhidas, gritar e soluçar.
Fui eu quem escravizou o horizonte e o ponte,
Com correntes de cílios os manteve aprisionados.
Fê-los atenderem ao arrebatador egoísmo
E secretamente arrastarem meus olhos atrás de si.
Fui eu quem envenenou mariposas com opiáceos,
Acendeu lâmpadas douradas onde se reunissem em sabás.
Fui eu quem libertou hordas de encantamentos famélicos
Para que se alimentassem, se fartassem da paisagem.
Foi em minha boca que regurgitaram - aves paternais -
O esplendor das miudezas sem fantasia. E eu comi.
7 comentários:
Agnaldo, poeta dos poetas, devo lhe fazer uma confissão também. Vc é uma alegria no Blog da Eliane. Alegre, preciso, firme nas posições, enfim um sucesso.
Vc é sempre leve.
Eliane querida,
Então estamos empatados. Você também alegra o meu espelho e ele se parece mais reflexivo, mas brilhante quando a recebo, com essa alegria de viver e essa leveza que você carrega na aura.
Sou um sucesso por lá? Olha que eu fico convencido heim! Mas gosto, gosto de estar entre as meninas... (Mentira, mentira... rsrsrs... Não fique brava, não é só entre as meninas, é entre as damas e os lordes que frequentam seu delicioso blog)...
Super beijo.
Foi vc que se preencheu de vida! Incrível poema!
Beijo =)
ah, as miudezas sem fantasia...isso
é resplendor, Agnaldo, um opiáceo
que elucida a rota das mariposas, que envenena de luz as nossas asas.
Que bom você estar por aqui, Agnaldo
Viva!
vc fica me comovendo com essas cenas do filme, Agnaldo...o porquinho cor-de-rosa!
Linda voz dessa mulher, ela tem um toque folk que eu adoro.
E que me apareça essa anja dos pássaros, que imagem suave. Outra dimensão...
bjsss, poeta!
Lara, Lara, Lara...
Não vou dizer muito, não. Só posso lhe afirmar que tento. Ah, isso sim. Tento, e muito.
Super beijo.
Neuzza querida,
Eu que digo: que bom que você esteja por aqui...
Andei sendo acometido por alguma moléstia de leveza. Planei um pouco sobre coisas menos escarlates, menos viscerais, menos ácidas. Não sei qual é a fase da lua, mas presumo que ela esteja metida nesse acesso de mansidão. rsrsrsrs...
Gosto disso, embora não sejam constantes suas investidas. Quando o são, aproveito.
E, olha, vou te mandar a anja dos pássaros para fazer companhia aos seus versos. Ela vai gostar.
Super beijo.
Postar um comentário