ALUMBRAMENTO
Cava de dentro para fora
A melhor hora, com tuas mãos.
Primeiro saem os dedos
Depois braços e cotovelos
Até que o osso esterno, costelas,
Todo o torácico esqueleto,
Cada célula
Alarguem-se – ventres –
E saia de ti
Tu
Delgada libélula.
Olha como casca o teu antigo corpo.
Um casulo formado em torno do outro;
Os teus quadris
Rentes subindo, expelidos,
O teu sexo refletido
Nos olhos do corpo antigo.
Músculos tesos
Nervos tensos
Pêlos ouriçados.
Até que a sola branca de teus pés revele
Toda a brancura da pele
Recém-descoberta.
Restem gotas de sangue – qual rubis sobre o teu manto -
Pontilhando-a.
Ou como rosas ao fundo
Num dia branco.
Lambe a cria tua – a tua criatura,
Antiga e renovada.
Ainda o cheiro da placenta
E ainda o perfume do suor, esforço e gozo,
E ainda mais,
O olor jasmim secando as carnes do que fostes,
Enquanto assistes
Folhas, passado, despetalando-se.
Soprando os ventos
Do tempo novo,
Ansioso para ser...
(Agora voa!).
(Em Recife-PE, 23 de Abril de 2009, são 8h33 de um dia que resolvi dar uma trégua, voltar a falar com a poesia para abrir uma exceção à Cris (Cristina Thomé d’Além Tejo). É para ela.
Cava de dentro para fora
A melhor hora, com tuas mãos.
Primeiro saem os dedos
Depois braços e cotovelos
Até que o osso esterno, costelas,
Todo o torácico esqueleto,
Cada célula
Alarguem-se – ventres –
E saia de ti
Tu
Delgada libélula.
Olha como casca o teu antigo corpo.
Um casulo formado em torno do outro;
Os teus quadris
Rentes subindo, expelidos,
O teu sexo refletido
Nos olhos do corpo antigo.
Músculos tesos
Nervos tensos
Pêlos ouriçados.
Até que a sola branca de teus pés revele
Toda a brancura da pele
Recém-descoberta.
Restem gotas de sangue – qual rubis sobre o teu manto -
Pontilhando-a.
Ou como rosas ao fundo
Num dia branco.
Lambe a cria tua – a tua criatura,
Antiga e renovada.
Ainda o cheiro da placenta
E ainda o perfume do suor, esforço e gozo,
E ainda mais,
O olor jasmim secando as carnes do que fostes,
Enquanto assistes
Folhas, passado, despetalando-se.
Soprando os ventos
Do tempo novo,
Ansioso para ser...
(Agora voa!).
(Em Recife-PE, 23 de Abril de 2009, são 8h33 de um dia que resolvi dar uma trégua, voltar a falar com a poesia para abrir uma exceção à Cris (Cristina Thomé d’Além Tejo). É para ela.
QUASE UMA ESCRAVIDÃO ESTÉTICA QUE DEU EM NADA...
Deveria ser como uma crônica, mas não é... O mar, lá fora, sussura coisas que eu não ouso repetir.
Fiquei pensando durante um longo tempo sobre o significado desse blog e dessa postagem. Não obtive respostas. Aliás, tenho obtido poucas respostas ao longo da vida (pelo menos ao tempo e à hora que desejaria recebê-las), contudo, me dediquei muito a um exercício, e tal prática me fez enxergar que não ter respostas não é de todo mal. É um adiamento, talvez...
"A primeira postagem tem de ser algo interessante", decretei. Mas o que? Sinto-me à mercê da "ditatura das inteligências enlatadas e instantâneas", e isso não me agrada.
Pois bem. Não tem de ser interessante, tem de ser o que é. Real ou o reflexo.
No caminho do supermercado eu fui rezando. Preocupações imediatas e de curto prazo que levaram a cochichar aos ouvidos do sagrado venturas que desejava, mas não para mim.
Desde muito deixei de querer para mim porque, de fato, falta-me pouco. Peço infantilidades - quando peço - pois sei que meu crédito é baixo, e por conta da preguiça só diminiu... Mas, enfim, fiz uma oração secreta, dessas que o amor justifica e as palavras não dão conta de caber. Fiz...
Por toda a avenida ensolarada, dez horas da manhã, o mar seguiu-me com olhos azuis atentos e os coqueiros tentavam repetir minhas palavras inaudíveis. Foi assim, ou não...
O fato é que as cenouras do supermercado não estavam bonitas, contudo eu as trouxe.
Isso deve me permitir uma metáfora interessante (enfim, algo interessante) para terminar: as cenouras não estavam bonitas, mas eu as trouxe mesmo assim. O setor de hortifruti nem sempre está repleto do que queremos no momento... Como a vida.
As cenouras vieram... Lindas, lindas, lindas e suculentas uvas, vieram também... (Muito embora não fizessem parte do plano inicial)...
Deveria ser como uma crônica, mas não é... O mar, lá fora, sussura coisas que eu não ouso repetir.
Fiquei pensando durante um longo tempo sobre o significado desse blog e dessa postagem. Não obtive respostas. Aliás, tenho obtido poucas respostas ao longo da vida (pelo menos ao tempo e à hora que desejaria recebê-las), contudo, me dediquei muito a um exercício, e tal prática me fez enxergar que não ter respostas não é de todo mal. É um adiamento, talvez...
"A primeira postagem tem de ser algo interessante", decretei. Mas o que? Sinto-me à mercê da "ditatura das inteligências enlatadas e instantâneas", e isso não me agrada.
Pois bem. Não tem de ser interessante, tem de ser o que é. Real ou o reflexo.
No caminho do supermercado eu fui rezando. Preocupações imediatas e de curto prazo que levaram a cochichar aos ouvidos do sagrado venturas que desejava, mas não para mim.
Desde muito deixei de querer para mim porque, de fato, falta-me pouco. Peço infantilidades - quando peço - pois sei que meu crédito é baixo, e por conta da preguiça só diminiu... Mas, enfim, fiz uma oração secreta, dessas que o amor justifica e as palavras não dão conta de caber. Fiz...
Por toda a avenida ensolarada, dez horas da manhã, o mar seguiu-me com olhos azuis atentos e os coqueiros tentavam repetir minhas palavras inaudíveis. Foi assim, ou não...
O fato é que as cenouras do supermercado não estavam bonitas, contudo eu as trouxe.
Isso deve me permitir uma metáfora interessante (enfim, algo interessante) para terminar: as cenouras não estavam bonitas, mas eu as trouxe mesmo assim. O setor de hortifruti nem sempre está repleto do que queremos no momento... Como a vida.
As cenouras vieram... Lindas, lindas, lindas e suculentas uvas, vieram também... (Muito embora não fizessem parte do plano inicial)...
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