[Imagem: Auto-retrato com braço
- Gustave Courbet
Vídeo: Mercy street - Peter Gabriel]
Quero o gás do sono.
E um invento de sonho
Onde cavalgue animais magérrimos.
Caminhar num horto de abutres
De braço erguido;
Sem roupas ou pele.
A verdade é sempre muito cruel;
Põe no mundo filhos hediondos.
Vou estercar-me de ilusões
Para encopar.
Depois me podo
Como quem corta as unhas
Ou extirpa calos.
Quero um cilindro de gás do sono,
Um escafandro-âncora,
Um mar de plumas que me afoguem
De leveza.
Galopar no baio esquelético,
Em pelo.
E nu.
Até que reste apenas a carne viva
Das nádegas
E a fantasia me infeccione.
[Dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]
9 comentários:
Poema maravilhoso, querido Agnaldo
Este seu surrealismo me encanta...
Grande abraço, amigo!
Quando conseguir um destes, dê-me uma amostra grátis ;)
Beijo, querido.
Zélia,
O surrealismo permeia nossas vidas, não é? E eu tento pescá-lo. Sou capaz de ficar horas olhando para uma palavra, na esperança de que se transforme em outra ou em outras.
E às vezes funciona. Elas próprias se resignificam e me ensinam sentidos novos. Nessas horas percebo que respirei pela primeira vez em seu universo encantado e surreal.
É ótimo saber que te encanta. A mim, me encanta também.
Super beijo.
Lara,
Combinado! Um cilindro para mim, um para você. Mas não vai usar muito, porque a vida desperta é bem mais interessante.
Super beijo.
Vc sempre dominando as palavras e entendendo sentimentos. O que dizer mais?
bjs
Eliane querida,
Diga, diga... Há muito mais a ser dito sim, especialmente quando vem de corações generosos como o seu.
Super beijo.
menino, essa reprodução é belíssima, esse homem-fauno assim tão derramado. Me lembrou um homem a quem amei...e como...
Sim cair nos braços de Morfeu...
bjs
ah, poeta, misturei, entorpecida, os sonhos: lantejoulas transparentes, dedos enamorados, flores, bichos, folhas...
foi aquele pinot noir, rs, que vc sugeriu
E esses teus versos que ora adoçam
mas lanham e salgam...
Neuzza querida,
Não importa que o pinot tenha gerado a mimetização, mais importante foi a lembrança, a lembrança de alguém que você tenha amado (e como).
Se foi digna de se contada, significa que não foi doída (ou ao menos já não dói), o que me faz sentir orgulho.
Uma lembrança de amor gerado por um poema... O poema se paga com ela, se paga...
Super beijo.
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