[Imagem: Lion stalking - Herbert Thomas Dicksee
Vídeo: Old man - Lizz Wright]
Arrasta os móveis a qualquer hora
O homem do apartamento acima.
É só e idoso.
Deve conversar com cadeiras
Quando a noite chega
E a televisão não lhe dá ouvidos.
Ouço-o tilintar em minha cabeça
Aquilo que penso serem seus sapatos,
Sua bengala ou sua solidão.
Eu mesmo caminho pela casa
Nas madrugadas.
Arrasto chinelos
Cujos sons abafados se parecem
Com a voz desconhecida
Daquele homem que não tem para quem dizer
Palavra.
Alguns metros nos separam,
Conquanto esses metros nos irmanem,
Visto que temos o mesmo cercado,
A mesma jaula para arrodear.
Somos leões domados
Girando em gaiolas similares.
Ele arrasta seus móveis
Na esperança de que acordem.
Eu embalo meu silêncio
Rezando para que adormeça.
Somos o mesmo tipo de bicho.
Separados por algumas décadas
E unidos pelo mesmo destino cativeiro.
6 comentários:
a solidão elevada a um máximo quase insuportável, Agnaldo.
Dói na pele, gela por dentro
Neuzza querida,
E as pessoas que envelhecem sozinhas me parecem ainda mais solitárias que as demais, porque a idade, à medida em que avança, deve ampliar proporcionalmente tal sensação.
É de gelar por dentro realmente.
Super beijo.
Engraçado Poeta como alguns móveis, apenas alguns, podem separar duas pessoas carentes de conversa e de afeto.
Somos todos unidos por isso; ainda bem que a poesia é mais forte. Uno-me a ti através dela =)
Eliane querida,
É verdade. Vizinhos por vezes mal se conhecem. São os males da modernidade, que fazem com que os seres humanos fiquem cada vez mais isolados em seus mundos particulares.
Mas há de acontecer algum evento que nos encaminhe à proximidade original, tenho certeza disso.
Super beijo.
Lara,
E que ótima companhia a sua. Damo-nos os braços através da poesia e a palavra se incumbe de fazer o resto.
Super beijo.
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