[Imagem: Caronte - Gustave Doré
Vídeo: Foi Deus - Antônio Zambujo]
Fantasmagorias.
Luminescências.
É minha alma alçada ao topo do farol
Em chamas para o mar bravio,
Uma fina e brilhante mão de luz
Avançando contra as ondas para as velas distantes
Prontas a serem esquecimento, solidão e finitude...
Pousado no alto duma pedra imensa
Descansando de mim por um momento
Olho em derredor e só consigo enxergar
A cálida neblina, a vertigem e o distanciamento...
De longe tudo é longo.
Me faltam os caminhos
E me sobra desejo
De andar.
Alegorias
Iridescências
Opaco e oco e verdadeiramente duro
É o meu norte que não se apresenta adiante ainda.
E tudo finda...
E tudo se acaba, se limita, se elimina, se perde
Como a grande luz do farol
Contra o mar
Que vai e vai e vai
Até jamais ser vista
Até não existir
Até nunca ter existido...
Parece-me que tudo é desconhecido
E eu sou um desconhecido e eu mesmo me desconheço.
E então aprecio do cume da pedra
As estranhas maravilhas a me espreitarem.
Do alto o mundo é plano
E pleno de si mesmo.
Eu não o sou.
Curvo, sinuoso, alheio...
Um antigo farol que espera – aceso e teso – navios que não virão...
Escrito para o livro "A Minha Idade de Cristo"]
9 comentários:
Agnaldo, meu querido
Poema de uma beleza ímpar!Questionamentos da vida, que a mim também me pegam, me agarram com unhas e dentes pontiagudos, afiados, verdadeiras navalhas e me deixam horas e horas sem reação. Quando me iludo pensando ter adquirido força para enfrentá-los, ai, que decepção: não os venço nunca...
Você, sim, sabe o que fazer com eles: este poema de profundidade incomensurável...
Grande abraço, amigo, todo preenchido de admiração
Estava lendo no seu blog o texto ao lado. "...não lastime...pode ser que o tempo ou a maresia tenham ofuscado o espelho."
Pois é Poeta, muitas vêzes os olhos ficam mesmo ofuscados.
Estava lendo a análise da querida Zelia e vejo como os poetas se entendem. Confesso que algumas vêzes -como hoje - leio e releio para ter a visão clara refletida no espelho. O bom é que consigo. Mas minha praticidade é que -vez por outra- ofusca meus olhos. Bom que passa rápido.
E como preciso de poesia. Uma boa sexta.
Zélia querida,
Pois te digo que você está enganada. Não sei; também não sei o que fazer quando a inânia diante das explosões sensoriais me ataca.
O que faço é tentar, tentar e tentar. Pelear com as palavras; escavo-as para que não me enterrem em ausência de significados. E vou tentando...
Às vezes sai, outras permaneço com as emoções entaladas, padecendo...
Mas de tudo, de tudo mesmo, o que é bom é estar bem acompanhado; é saber que seus olhos percorrem meus textos e me fazem companhia. Grato, muito grato.
Super beijo.
Eliane querida,
Zélia é generosa e tem o olho acurado; consegue encontrar beleza onde ela tenta se esconder.
E você, minha querida guerreira, que tenta se proteger por detrás de sua praticidade, é um oásis de percepções, emoções e delicadeza.
Creio que quando olha no repetidamente no espelho não é para tentar que seus olhos estejam nítidos, mas para melhor enxergar seu próprio reflexo, cuja luz é capaz de ofuscar.
Super beijo. Super beijo.
Esse fado caiu-me como uma luva.
Grande escrito, Agnaldo!
Beijo.
Oi Lara,
Pois, olha, foi Deus... (Com bem diz o título do fado).
É lindo mesmo, e a interpretação de Antônio Zambujo deixa-o indispensável.
Super beijo.
Encontrar teu blog nesse momentofoi um presente de Deus.
Para alguém que como CFA "se sente cada vez mais estrangeiro", ler esse FADO encheu-me a alma de alento.
Parabéns... Obrigada pelo presente.
Wanda,
Eu é que agradeço. Agradeço pela presença, mas especialmente por não ter se acanhado e soprado sobre o espelho para escrever sua mensagem com dedos tão gentis. Senti-me baforando nesse mesmo espelho para melhor enxergar a generosidade cuidadosa de suas palavras.
Que bom que o fado tenha conseguido embalar sua alma. É para isso mesmo que tem de servir, para fazer com que as pessoas que olham no espelho encontrem alguma luz, quiçá a luz do próprio reflexo.
Pois, olha, a casa está sempre aberta. Sempre. E sempre tem melancia na geladeira, chá de hibisco fumegando, lavanda nas janelas e um coração receptivo aos andarilhos que por aqui passam. Entre, entre quando quiser. Abra gavetas, percorra os cômodos e se sinta acolhida, porque é assim que se constroem intimidades.
Bem-vinda,
Super beijo.
Agnaldo... Obrigada pela atenção no carinho da resposta. Bjao.
Postar um comentário