A história é a seguinte: o sujeito está com a unha do dedão do pé encravada (pode escolher o pé. Esquerdo ou direto, tanto faz) e resolve embarcar em ônibus abarrotado de gente. O que acontece? Pois é, algumas coisas são inevitáveis, assim como falar de eleição no pós-pleito.
Prometo fazer o possível para correr do óbvio e não ser tendencioso. Prometo!
Começa assim: enfim São Paulo assumiu o que todos os demais Estados já sabiam e não admitiam publicamente. Um palhaço a mais ou a menos faz pouca diferença.
Ironias à parte, a eleição de Francisco Everardo Oliveira Filho foi o acontecimento do fim de semana. Ora, não sabe de quem se trata? Refresco a memória: “Forentina, Forentina, Forentina de Jesus”... Ele mesmo, o “Tiririca”.
O suposto voto de protesto (?) serviu para aumentar a certeza da velha guarda da política nacional acerca do que fazer com a opinião pública. Quem elege “Tiririca” não pode se queixar de ser representado por um palhaço. E se antes já acreditavam nisso, agora...
Mas não riam ainda, queridos cariocas. Antes de fazê-lo lembrem-se do baixinho. É, ele mesmo, “peixe”. Ou será que os gols na campanha do tetra foram suficientes para angariar o perdão eterno para as poucas e boas que arrasta atrás de sua vida pessoal? Mas o cara é craque, fez “p’ra mais de mil gols”. E daí? Se admitirmos que talentos dessa natureza pesem, por que não elegermos a mulher fruta da estação (e olha que uma delas foi candidata)?
Não dá para comparar? Pensem melhor, reflitam e verão que os motivos podem ser diferentes, mas o fiasco é idêntico.
E Brasília? E aquela senhora? Qual é mesmo o nome dela? Ah, é Roriz. Não ganhou, mas foi para o segundo turno. Quer dizer, diplomaram a família. O marido, bom, nem precisa não é! Comentar qualquer coisa é ir de cara no óbvio. E a capital do país dá sua lição de democracia dizendo em alto e bom som “SIM, bate que eu gosto”. Pergunto, se essa criatura semianalfabeta cultural vence as eleições distritais, quem governa? Alguém se arrisca?
E para não ficar marchando exclusivamente sobre a tragédia, temos a honrosa votação da Marina. Atenção, o Acre existe! (E o Acre votou em peso nos outros dois). Mulher com discurso coerente (embora pouco sustentável do ponto de vista das alianças futuras). Fez uma campanha bonita, tranquila e deu uma volta nas intenções de muita gente nessa reta final.
De outro lado, o segundo turno. Para pensar na cama (ou onde quiser):
Os escândalos sucessivos com os quais temos tido contato são novidade ou estão apenas mais visíveis? Em que outro momento de nossa história políticos foram cassados, presos por corrupção e desmandos com a coisa pública? Alguns vão dizer: ah, mas isso aconteceu por intervenção do Ministério Público, por atuação da Justiça etc etc etc. Alôô! E tais poderes, onde estavam nas últimas três décadas? E olha que, se não nos falhe a memória curta, é só procurar um pouquinho, fazer uma tabelinha no excel que é bem possível que a conta de escândalos termine empatada.
Não estou, com isso, querendo dizer que “Dilminha não é comigo” seja melhor que a “versão açucarada do picolé de chuchu” ou vice-versa. Quero apenas trazer a discussão para um patamar de razoabilidade. Existe SIM, um monte de coisa errada, tem sujeira saindo pelo ladrão, tem muita explicação a ser dada, mas, olha, não se espante com o que vou dizer. Isso não é novidade. O que mudou foi a força das alianças, o tamanho do tapete (e a quantidade de lixo que ele suporta esconder). E, claro, a divulgação (graças a Deus).
Agora é escolher e votar. Não existe anjo nem demônio. A farinha pode ter saído de moendas diferentes, mas é farinha. E, por uma coincidência temporal, não estão no mesmo saco, mas é só.
Então, A ou em B. Aperte o verde para confirmar, sabendo de antemão que os precedentes de ambos não os colocam em posição de beatificação. Longe disso.
E, cá entre nós, é fácil dizer que ninguém presta. Anular o voto, se desincumbir ou, pior, votar e passar mais quatro anos reclamando ou criticando.
O exercício pleno da democracia vai além dos 30 segundos de urna eletrônica. Passa pela participação ativa, pelo inconformismo e pela bandeira da “boca no trombone”. Não temos à disposição de nosso voto quem gostaríamos de ter (se é esse o caso), mas não há outro remédio. É o que temos. É escolher entre um e outro e tentar, na medida de nossas possibilidades, fiscalizar, protestar, gritar e tentar contribuir para que as coisas avancem.
Enquanto isso, reflitamos sobre “Tiriricas”, “Peixes”, “mulher sobrenome” e afins. Daqui a quatro anos tem mais... É um bom tempo para pensar.
[Ah, aproveitando que está fácil, proponho a candidatura de Vanusa para puxadora oficial do Hino Nacional].
[Das: CRÔNICAS DO DIA]
5 comentários:
a gente que tudo vai se oxidando,
se desfazendo...essa história tem efeito corrosivo. No dia das eleições eu me andei perdida por aí
Compreendo e concordo com as suas colocações, Agnaldo
afinal, tudo se tornou mesmo uma grande palhaçada.
A cidadania deu seu último suspiro por aqui.
um beijo
eu nem, consigo falar com clareza sobre isso, desculpe.
Agnaldo poeta, anda inovando? Gostei.
Pobre Vanusa.Cai o pano.
Neuzza querida,
Ainda estou digerindo também, mas a poesia me salva. Como tem feito com você (pelo que vi no seu spirituals).
E vamos indo, não é? Que a poesia nos resgate quando estivermos prestes a ceder, e nos salve sempre da enxurrada e dos destroços e do lamaçal.
Super beijo.
Eliane, Eliane, Eliane (três, hoje, percebeu?),
Fui obrigado a voltar a escrever sobre algo que há muito, muito, muito, não fazia. Política.
É que fiquei muito aborrecido com o que assisti no domingo. Foi uma espécie de freak-show que poucos financiaram, mas muitos (nós, inclusive) vão pagar a conta.
O palhaço tiririca foi a gota d'água.
E como diria Chico: ...E qualquer desatenção, faça não! Pode ser a gota d'água.
E foi.
Mas acho que já voltei ao meu estado de normalidade.
Super beijo.
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