[Imagem: Soap Bubbles - Jean-Baptiste Simeon Chardin
Vídeo: Torn - Natalie Imbruglia]
Petra subiu à torre para orar,
Para orar ao próprio reflexo
E, enquanto orava, reconheceu
A deidade que a habitava.
Petra subiu à torre para olhar,
Para olhar o próprio reflexo
E, tanto que olhasse, mais e mais
Ele se gastava
Contra o céu no horizonte em chamas.
Petra subiu à torre para ornar,
Para ornar o próprio reflexo
E, ornasse com fitas, laços ou flores,
Ainda assim lhe pareceria
Desoladoramente opaco,
Brutalmente liso e regular.
Petra subiu à torre para ocupar,
Para ocupar o próprio reflexo
E, no termo com que avançava,
Mormente se perdia em si – ou de si.
Um barco rumo ao nevoeiro,
Um pássaro contra o sol,
Um seixo atacado ao rio.
Petra subiu à torre para observar,
Para observar o próprio reflexo.
Observar-se, mutuamente, com o que não era.
Feito bolha de sabão
Que por meio enigmático pairasse
Diante dos olhos indecifráveis
Da mais indecifrável de todas as gárgulas
Da torre onde Petra subiu.
Petra subiu à torre.
Para aprender a voar.
[dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]
5 comentários:
subir à torre para voar...
querido Agnaldo, vim cá até sua torre
onde sempre saio com asas ainda maiores, flanando mais e mais alto.
Salve, poeta! Bem vindo ao ofício, rs!
A sua poesia cola os ossos, ilumina a pele, fortalece as artérias. E o meu Spirituals agradece!
bjs saudade e alegria
amei o timbre da Natalie! E que bonita, essa danada!
bjs!
Olá!
Muito bom tê-lo de volta. Lindo poema...
Estáva com saudades.
Abraços
Neuzza querida,
Entre um a fazer e outro, de um dia danado de corrido, publiquei "Petra...". E você veio... Foi como se eu a tivesse chamado. Que sorte a minha.
Suas palavras dão cor ao poema. Suas palavras e sua generosidade.
Super beijo.
Vera querida,
Eu também estava com saudade. A vida tem sido pródiga em várias coisas (inclusive em ocupações, rsrsrs), por isso tanto distanciamento.
Mas tenho feito um esforço danado para voltar (e estou voltando aos poucos).
Ótimo te reencontrar por aqui.
Super beijo.
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