Não deixe doer,
E se fundo doer, respire,
E não deixe florescer nos olhos a tua dor.
E se rubras tulipas tornarem-se os teus olhos, orvalhadas,
Não deixe que ninguém tenha o prazer de ceifar teu campo e colhê-las.
Não permita que vejam,
E se, oculto onde estavas, virem,
Não permita que saibam a razão secreta,
Acaso saibam, pois grande a evidência se tenha tornado,
Não permita tatearem dedos curiosos sobre a dália de tua carne exposta.
Não consinta demonstrar,
E havendo certa a impossibilidade,
Não consinta que desfraldem, públicas,
As flâmulas amargas do que, de íntimo, te rasga, e leva ao chão
O canteiro de margaridas despetaladas dos teus sonhos bem-me-quer.
Não tolere sofrer,
E se aos teus músculos for insuportável,
Não tolere que te vejam sobre joelhos arqueados,
Colhendo crisântemos, amarelos e tristes, num jardim de acetona.
Não tolere que assistam tua alma despetalar-se, teus espinhos serem
[flor.
[flor.
[Dos: POEMAS DO ESTOQUE
Escrito para o Livro: "AGOSTO NEGRO
- Poemas de cachorro louco"]
9 comentários:
A entrega às trevas... conter-se a declamá-la é uma forma de não se submeter a ela; alguns a puxam, a atraem.
Beijo, adorei!
"Não tolere sofrer. "
Versos lindos deste poema e com Angela Ro Ro arrematando...10. Nota 10!
Oi Lara,
Importante é não perder o espírito de guerra, não baixar os escudos nem deixar que as fragilidades nos enfraqueçam.
Viver com a faca entre os dentes.
Super beijo.
Eliane, Eliane,
Ângela Ro Ro arrebenta. Tem a voz certa, a intensidade certa e a pungência necessária, a que eu buscava.
Aliás, busquei esse poema antigo, de um livro pronto meu (mas ainda não publicado, coisa que não costumo fazer, postar poemas de livros prontos no blog) só para ter a alegria misteriosa de postar "Fogueira" junto.
Que bom que tenha gostado.
Super beijo.
Viver sempre com garra...Nãose entregar!Lindo! Vim agradecer teu carinho com meu netinho,neno!Ele adoroua visita, mas não vem sempre ao computador...É tudo controladinho,rs...abraços,chica
Agnaldo querido, um poema assim não sara nem aclara o que queima em nós mas se abre como possibilidade de revelação e voos ainda mais corajosos sobre os abismos.
É um poema que me inspira este:
um poema não sara
nem aclara o que te queima
mas abra
e não tema
-.-.-.-.-.-.-.-.-.
E Ângela RÔ-RÔ é tudo de que se precisa...Ora, vc, cão danado...rs
beijo afetuoso e admirado
Chica,
Eu que agradeço pela visita e espero recebê-la mais vezes. A casa está sempre aberta e os espelhos sempre brilhando para que cada alma amiga consiga enxergar a própria beleza.
E tem lavanda nas janelas, melancia na geladeira e chá de hibisco nas noites frias.
Bem-vinda e volte, volte sim...
Quanto ao Neno, o blog dele é uma graça, uma delícia e um delírio para a alma eternamente infantil.
E vocês têm razão em controlar o acesso à internet. Esse bicho inanimado, onde algumas pessoas não tem carne nem caráter, é fundamental manter as crianças protegidas.
Super beijo.
Neuzza querida,
Cão danado, um cão danado. rsrsrsrs. Olha, isso é dos melhores elogios para quem rosna e baba sobre a poesia, roendo seus calcanhares. (Ou querendo roê-los).
Vou dormir manso hoje, pensando nisso, enquanto babo e desenvolvo minha hidrofobia essencial.
E seus poemas me acanham. Sim, porque preciso de um livro para dizer o que você consegue, magistralmente, em três versos.
Super beijo.
...E falando de Angela Ro Ro, Neuzza, ela escandaliza com sua voz de zinco.
Perdeu peso, mas não potência. Ganhou em intensidade e dramaticidade. Ela é das nossas. Uma costela só quebrada não basta.
Super beijo.
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