"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

POEMAS (QUASE) RECÉM-NASCIDOS


PARTO PREMATURO

Fórceps
Fórceps
Fórceps
Delirava a alma
Içada pelas têmporas.

Às mãos vermelhas do destino
Sacudia-se
Querendo respirar.

Desabotoado, o peito,
De cima a baixo
E sendo cosido
Com cordas de aço.

“Está viva?”

“Sim,
Mas irremediavelmente aleijada”

[Dependerá de cuidados
Para não ser torta]

Hábeis mãos
O destino aparou as pontas
Da derradeira laçada,
Como o fizesse aos chifres de um novilho,
Para amansá-lo.

Estendeu-me a cria
Ainda quente
Ainda suja
E eu a tomei nos braços
Lambi e ferrei
Para que tivesse a minha marca.

Para que quando a vissem mancando pela vida
Soubessem-na única.



2 comentários:

Anônimo disse...

Todo poeta deve nascer de fórceps, prematuro; quando renasce para escrever, o trabalho de parto não é fácil.

Ps.: Seu comentário me estarreceu. As analogias com o dente-de-leão e os dentes de leão foram perfeitas, obrigada! Vc pode mandar um e-mail para mim para: lara.amte@gmail.com? Só para eu ter o seu endereço de e-mail.

Beijo, grande poeta.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Oi Lara,

O e-mail já foi.

Quanto ao comentário, não fui eu. Foi seu próprio poema quem o revelou.

Super beijo.