"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

POEMAS RECÉM-NASCIDOS


Invenção de meu “poema de sete faces”, 
em homenagem a Drummond e a Adélia. 
Mais leves do que eu. Mais belos do que eu, 
mais profundos do que eu jamais conseguirei ser.


POEMA DE SETE FACAS

Deste-me o quanto me tiraste; não te devo
Recolhe tuas promissórias de beijos regurgitados
Língua de faca; enquanto lambe desossa
Longe de mim menstruar tuas hemorragias.

Vês que exaurido ainda nos pés me apóio; não curvo
Reverências que esperavas pelo empréstimo; pois te digo
Fui eu que me emprestei para que fosses gume
Fio agudo; sai com teu corte para outro indivíduo.

Lastimas pelo óbolo que te negaram; não o fiz
Tua couraça bandeja repleta; ainda queres e mais queres
Vai-te com teu egoísmo sumidouro; faca desembainhada
Apoderar-se do alheio despojo; porque não do meu.

Quando eu nasci ocultaram-me; houve um anjo
Soberbo como tuas asas remanescentes; ainda hoje
Tens constates asas com penugem laminada; faca
Anjo que eras tu e eu e ele costurados; e o corte.

Bênçãos de escalpelar que me conjuras; as rejeito
Teu sortilégio arpoador; encanta-o nas próprias costas
Ferócia emprestada que queres vestir; te afianço
Dois bichos não habitam a mesma pele; mesma bainha.

Foste-me o quanto me fizeste; ao pé da letra
O testamento de ambos celebra único herdeiro; o cabo
Todo o resto resguardado sob a superfície; enfiado
Até o cabo feito um osso ou um sentimento; comuns.

Quando eu nasci revelaram-me; houve um anjo
Nascemos um para o outro e no outro; consumidos
Um só fio faca corte nascimento; desde então estamos.
Desde que nasci... Quando? Quando eu nasci? Nasceste.


3 comentários:

Neuzza Pinheiro disse...

Agnaldo querido, mil vezes querido

entrei mesmo em pane nesses dias; lâmpadas estralavam, queimavam; formigas invadiram minha casa; meu dedo médio se dobrou e ;
a internet pifou estranhamente; sofri uma queda séria de um ônibus
e estive com o pé imobilizado; minha filha ligou e disse "coitadinha..."; minha mãe não me abraçou quando cheguei(agora tô em Londrix...)rsrs..parece mentira mas é sério, absolutamente verdadeiro; não tenho escrito; amei as mudanças por aqui; fico feliz, feliz e essas pérolas barrocas me emocionam
tenho andado bem mais triste.
O que aconteceu?

Neuzza Pinheiro disse...

te ler é bom, Agnaldo
e quando puder eu volto correndo
abraço muito saudoso

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Neuzza querida,

Nossa, entrei num looping, pensando zilhares de coisas, zilhares de possibilidades...

Neuzza, não sei bem o que a internet faz com a gente, mas ela torna pessoal coisas que deveriam ser impessoais, sentimentos que deveriam ser frios ganham contornos de preocupação, de carinho, de cuidado.

Creio que quando lemos os poemas e reflexões alheios de alguma maneira mimetizamos a alma do autor, sei lá...

Estou reflexivo e feliz. Feliz por você estar de volta, feliz por ter visto "sinais de fumaça" londrinos.

Ah, outra coisa, se a Cris (nossa amiga londrinense) entrar em contato com você perguntando se algo lhe aconteceu, não se assuste, fui eu quem a mobilizou... rsrsrsrsr... Mandei um e-mail para ela perguntando se havia tido contato com você nos últimos dias... rsrsrsrs... Ela deve estar preocupada também...

Bom, estou feliz.

Feliz que você tenha voltado.

Tenho imenso carinho por você, e, como costumo dizer às pessoas mais queridas: gosto de você de graça...

Super beijo.