A FORÇA DA GRAVIDADE
Não passa do chão.
Por mais pesado, o corpo, quando cai,
E mais alta que seja a torre de onde ele se vai,
Quando cai,
Não passa do chão.
O entendimento é a única armadura
Da qual dispõe a vida
Para atravessar searas desfavoráveis
E não se perder entre os espinhos.
Só o entendimento de que
Em algum momento,
O chão.
Depois a ascensão,
Feito um falcão que, acossando a vítima em rasante,
Se desprende da vida em atenção ao instinto
E a retoma no segundo final,
Rente ao chão.
Não passa do chão.
Quem tem coragem de aceitar que o universo,
Antes de se criar,
Explodiu.
Não passa do chão.
A fruta precipitada pela árvore,
A chuva suada pelo céu...
O homem, indistintamente de onde caia
Não passa do chão.
A vida os perpassa.
E mesmo quando o chão enxuga a chuva
E suga a seiva da fruta madura
E ainda quando encobre o homem
E o devora,
A vida os perpassa.
E passa a ser chão
Tudo aquilo
Que do chão não passa.
Tudo o que de chão não passa.
(Trata-se de um poema recifense. Uma reconciliação, depois de longo silêncio).
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