O RINOCERONTE
Ontem.
Como um rinoceronte
Marchando atrás de mim
De chifre e lança.
O marfim do passado
Sinto-o rente
Aos rins.
A pele que não morre,
Os cascos que não cedem.
Uma adiante se alastra
Outros demarcam a trilha.
Eu avanço para longe,
Mas retrocedo.
Horas derretidas.
O muco, a escuma
Que o animal projeta
Em meu fadário
Lembram-me líquidos,
Hidrofobia ancestral.
O rinoceronte avança
Agitam-se em suas guampas
Fitas amarelas.
É o passado
Acenando delas.
Minhas savanas
Terrivelmente secas
O seguem. Intactas.
Monto o bicho
E atarraco-lhe as orelhas.
Cavalgo para o futuro,
Galopo sobre o passado
Sou o arreio do presente
E as peias
Que os atrelam
Um ao outro.
Marcha descontrolada
A fera.
Abre o ventre do tempo
Com seu punhal agudo.
Eu lhe recolho as tripas.
Vísceras do destino
São novelos.
Hei de tecer com elas
O meu manto e o meu fado.
Sobre o lombo do passado
Serei ginete.
Entre meus dedos
Fitas amarelas.
Até que venha o dia
Em que o rinoceronte
Amansado
Perderá seus cornos.
Dia que comerá de minhas mãos.
A ração que eu lhe der.
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