"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

POEMAS (QUASE) RECÉM-NASCIDOS


ANTIGUIDADE PERENE

Calcinados
Palácios remotos
Me povoam.

Gárgulas imemoriais
Suspiram pedras
Do alto de seus abismos.
Rosnam a marca dos biséis
Desde que
Atacados por hábeis mãos
Emergiram da rocha bruta
E ganharam vida.

Taturanas, mandarovás
Aspiram asas
De dentro de casulos inconcebíveis.
Tecem com o fio das horas
Sedas brancas
Vestidos para a festa das mariposas,
E dos pássaros
Que delas se saciam.

Talco sobre o assoalho,
Incenso nas janelas,
Cartas de tarô predizendo o óbvio.

Toma minha mão
A vidente,
Mas a planta é lisa.
Laca e verniz.

O perfume da noite
Consome o meu espírito.
Ambos se dissipam:
Gás.

A casa tem o cheiro
Das estrelas
Que eu roubei.

Palácios crivados de heras
Se erguem dentro de mim.

Sou verde e antigo
Desde sempre.


3 comentários:

Neuzza Pinheiro disse...

Agnaldo, Agnaldo

há tempos eu não me lembrava dos meus sonhos.
Nesta madrugada acordo e me vem o que havia acabado de sonhar:
mundos outros, outras luzes, formas...eu me encontrava num patamar aquém, a paisagem extraordinária me fugia. Então pedi
e voei e vi. Era assim, antiquíssimo e maravilhoso, tenha certeza. Revi agora pela manhã
neste seu poema encantado.
Um salto além do além. Fico muito grata.

Neuzza Pinheiro disse...

que seja sempre verde e antigo, poeta...

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Neuzza querida,

O que posso dizer? Sou realmente verde e antigo desde sempre.

(Suas palavras me azulam, avermelham, dão-me cores que desconheço).

Grato. Muito grato.

Super beijo.