O PROCESSO DE RAREFAÇÃO DO AR
Foi-me tão
Foi-me tanto
Foi me estrangulando
Até perder os sentidos.
E eu, desperto,
Vendo apagarem-se seus olhos.
Víbora de luz
Cognitiva.
Vítrea, vítrea lhe escapava da retina.
Armava cova
Em minhas órbitas surpresas.
Metáfora hermética.
A força do desejo
Feito um colar de pérolas
Comprimiu-me a glote.
Fê-la recuar.
Foi-me mais
Foi-me muito
Foi se esgueirando por minhas aberturas.
Tomou-me por completo.
Expulsou-me.
O ar
O espírito.
Sarcófago invadido
Por outro,
Por outros.
Quando procurei pelo meu corpo
Era eu,
Era eu o invasor.
Crescido demais,
Áspero demais
Para deslizar de volta.
E a víbora de luz picou-me.
Ensinou
A trocar a pele.
A respirar
Na pesada atmosfera essencial.
9 comentários:
Rarefeito fica o ar enquanto te leio, é num fôlego só. Muito bom!
Beijos.
E veio o poeta com um verso
e o estendeu a minha frente
qual um tapete de rosas.
Eu atravessei suas palavras e as suas pétalas
e cruzei os portais de sua casa
onde repousei
e me embebedei de poesia.
(Lulu)
A-do-rei seu blog. Já está devidamente adicionado aos meus favoritos.
Beijos.
Bom dia Agnaldo, passei para o meu Bom dia. Ler o poema de hoje e agradecer sua presença sempre por lá.
Olha a LuLu amiga aí.
Hoje tem uma nova trilha de música. Destas apaixonadas, lindas, românticas, profundas como seus poemas.
Lara,
Poesia é um mergulho. A minha, a sua, a de quem quer que seja. Tem de tomar fôlego e afundar, porque depois que entra, não se consegue respirar direito.
Super beijo.
Lulu, você veio!!!
Bom recebê-la em casa...
Lindas e poéticas também são suas palavras, um desfile de sutilezas sobre o tapete de rosas.
Sinto-me honrado por estar entre seus favoritos e de por tê-la como companhia.
Bem-vinda. A casa é sua. Olhe no espelho o quanto quiser, mas um aviso: Ele às vezes está opaco, borrado, e pode distorcer a natureza da coisas (o que não é de todo mal).
Super beijo.
Eliane,
Você é luz!!!
Seus bons dias acendem a manhã e fazem-na acordar.
Tomo café com você, quer aqui, quer em sua casa, e isso é sempre um prazer indescritível.
Chá de hibiscos para nós. Chá de cardamomo para o dia, que há de ser perfumado.
Daqui a pouco vou te visitar novamente, só para curtir a nova trilha (isso se meu note book, cuja memória tem se tornado apenas uma vaga lembrança, deixar).
Mas vou tentar, porque sou um sujeito que não se curva diante de um note book dos infernos (rsrsrs).
Super beijo.
ELIANE,
P.S. Se você pensar na música do Wando quando ler meu primeiro parágrafo, vou ter cólicas o dia inteiro. rsrsrs...
Outro beijo.
É isso aí, Agnaldo. Para mim também a poesia é um mergulho. É um mergulho na divindade, que tem um sabor orgástico. Assim eu expressei esse mergulho:
DA POESIA
Saber-te, peregrino, me faz conceber o verso.
Ao imergir em tua deidade
me decanto em poesia
e se sou poesia sou essência do não-ser
que no amorfo habita
sou a volúpia divina
o grito da criação
se espargindo em luz
sou o descanso de Deus
e x â n i m e
seu gozo exaurido em meu profano cio.
Esse peregrino, que Hilda Hilst (divina, ela) chamava de "Aquele Outro", vim a entender depois que é o meu animus (as mulheres, na psicologia junguiana, têm uma alma masculina, denominada animus. Os homens, têm uma alma feminina, denominada anima. Como tais, estão na dimensão do sagrado).
Mil beijos, tenha um ótimo dia.
Lulu,
...O descanso de Deus
... Seu gozo exaurido em meu profano cio
Além de todo o poema, esses versos são verdadeiras delícias. Palavras com gosto, com sal, com consciência própria.
Esteja certa de que, de fato, há uma parte sua - consciente ou não - habitando o sagrado solo do inexplicável.
Super beijo.
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