MELANCIA
Vejam que é uma bobagem, mas uma bobagem justa.
O homem brinca de Deus para alimentar o próprio egoísmo. Estamos apressados, imersos em nossas necessidades sacos-sem-fundo, dores, desejos, posses, umbigos. E tal imersão nos vai lentamente segregando.
Há muito me deparei com aquilo que (no instante mágico da descoberta) considerei a reinvenção do universo. O milagre supremo, a panaceia para uma de minhas paixões elementares: uma minimelancia. Tão bonitinha que dava vontade de pôr no colo, desenhar carinha com caneta hidrocor e, de quando em vez, fazer-lhe bilu-bilus.
Aos que ainda não entenderam, confesso: sou tarado por melancia! (Sempre que as devoro me pergunto se seriam maiores de idade. Isso para não cometer “frutifilia” ou “pedofifruta”, tamanha a lascívia).
Então, durante um bom tempo pensei que minimelancia fosse definitivamente a cura para dois males. Primeiro: o remorso por comprar uma fruta enorme e vê-la lentamente fenecer entre garrafas d’água e caixas de leite. Segundo: a tristeza por ter de deitar fora alguma fatia não comida.
Depois descobri que não. Que minimelancia é um milagre ao contrário, pois se presta à individualização.
Quando criança – família grande – partíamos, sei lá, duas melancias de uma vez. Ficávamos em volta delas, celebrando seu vermelho, orando com dentes e línguas sua carne doce. Era bom e bonito o sacrifício da fruta. Sobre seus ossos-sementes descansava a volúpia familiar, satisfeita em gozo gustativo.
O tempo destrói tudo, inclusive a si próprio. Hoje já não o temos em demasia e ele corre cada vez mais rápido. Um Usain Bolt invisível.
Comemos em fast-food’s (de pé), levamos frutas ou barras de cereais (e isso me fez lembrar uma companhia aérea que não vem ao caso) em nossas bolsas e mochilas. Não paramos nem celebramos porque estamos ocupados demais. Mas, com o que? Perseguimos o que, exatamente?
Escutem o que digo! Esse tempo é recordista universal. Por mais que se corra o prêmio obtido será sempre a medalha de prata.
E retornando à melancia – as convencionais - (que, graças ao capricho divino ainda não cabe na bolsa), percebi finalmente sua razão de ser. Ela existe para lembrar que coisas doces e simples merecem ser partilhadas e aproveitadas até a casca.
Melancia é a resposta à pergunta primordial: a razão de existirmos. Existimos para comungar, para somar à beleza coletiva; existimos para o outro e pelo outro. Somos parte da cadeia de DNA da existência; cada um lhe atribuindo alguma característica.
Portanto, viva a melancia de oito quilos! Líquida, vermelha, açucarada. Que sempre nos remeta ao que realmente importa.
Ah, e tem mais: as poucas sementes das minimelancias são incapazes de germinar.
12 comentários:
Agnaldo, acessar teu blog é sempre ter contato com um ótimo texto. Que as melancias nos restituam ao que importa: a docilidade, o prazer de compartilhar. Também adoro. As pequenas, então, são docíssimas..
bjs.
Oi Ana,
Que maravilha. Compartilhamos dois prazeres, então. As deliciosas (quase que imprescindíveis melancias) e as palavras.
As últimas, nem sempre tão doces, dão conta de todo o resto...
As portas estão sempre abertas e sempre existem melancias metafóricas por aqui, doces ou não.
Super beijo e obrigado pela visita.
Volte sempre.
Toc, toc, toc, tem alguém em casa?? Estou chegandooooo e tb adoroooo melancia , tomara que O GULOSO tenha deixado um pedaciquinho p A VISITA rs,rs,rs,sr,sr,sr, alouuuu, tem alguém aí???
Não sou a Magali mas tb amo melancias de todas as cores e tamanhos rs,sr,sr,sr,sr...
Estou aqui toda cheia de plumas, paetês, sapatinhos de cristal para te visitar mas se tiver melancia uauuuu, coloco uma bermudinha, camiseta,havaiana e vou MERGULHAR na melancia, que fruta deliciosaaaaaaaaaaaa, amo de paixão!
Que tópico simpático e DELICIOSOOOOO, adoro visitar blogs charmosos como o seu pq sempre encontro preciosidades, uma alegria passar por aqui, viu?
Papoula A GULOSA deixa beijins carinhosos e retorna breve, brevíssimo rs,sr,rs,sr,sr... sempre deixe um pedacinho da vermelhinha p mim, combinado? Inté querido.
Papoulíssima,
Viva a melancia de oito quilos! rsrsrsrs. Para que sempre reserve pedaços suculentos para as visitas.
Venha de havaianas, lenço na cabeça e protetor solar, porque vamos sentar na varanda e nos fartar de melancia gelada, sob o sol e as bênçãos do céu.
E vamos combinar o seguinte. Sempre terei uma melancia madura e suculenta, dessa forma você se anima a voltar mais vezes.
Super beijo.
Com toda esta sua simpatia volto de qq jeito mas se a melancia vermelhinha estiver por aí será melhor ainda rs,r,rs,sr,sr,sr,sr e o papo rolando, boas gargalhadas vai ser sensacionalllll!
Mas vou te contar um segredinho: se vc quiser me ver aqui todossss os dias além da melancia tenha uma travessa de BRIGADEIRO DE COLHER, uauuuuuu, sou viciadinha neste doce maravilhosooooo e faço qq loucura p uma boa colherada rs,sr,sr,sr,rs,sr, psiuuuuuuuuuu, só contei p vc, não espalha tá legal?
Linda noite tomando um caldinho bem gostoso pq o friozinho está uma delícia, inté querido.
Melancia é uma das minhas frutas prediletas. Aqui em casa duas frutas não podem faltar na mesa no café da manhã: mamão e melancia. Me a-to-lo nelas!!
Você sabe a historinha de Melancia e Coco Verde? Minha avó me contava quando eu era criança e era uma das que eu mais gostava. Um rapaz e uma moça eram apaixonados um pelo outro, mas a família não aprovava o namoro. Eles se encontravam às escondidas e para não serem descobertos, criaram um codinome: Melancia e Coco Verde. Assim, recados eram mandados a um e a outro sem que suspeitas fossem levantadas e eles pudessem se encontrar em seu lugar secreto. Um dia o rapaz (Coco Verde) resolveu tentar a vida na cidade e pediu a Melancia que o esperasse, pois dentro de 1 ano ele voltaria para buscá-la e se casarem. O tempo foi passando e o pai de Melancia arranjou um noivo para ela. Ela enrolou pra lá, enrolou pra cá, até que não deu mais: o dia do casamento chegou. Melancia estava tão triste que nem percebeu que exatamente neste dia estava completando 1 ano que o amado tinha ido embora. E aí tava rolando aquela maior festança, ela vestida de noiva, muita comida, muita bebida, muitos convidados... e em determinado momento alguém pediu para fazer um discurso em homenagem à noiva. E aí ele falou:
Melancia, Coco Verde me mandou pra te avisar
Melancia, Coco Verde lhe espera no lugar.
(Eita, que eu vibrava com essa parte!!! rsrsrsrsrsrsrsrs)
Ninguém entendeu nada, mas Melancia conseguiu sair de fininho, foi encontrar seu amado... e ninguém mais a viu!
E, como sói acontecer em todo conto de fada... foram felizes para sempre!
Como é que vc permite em um blog tão sério e poético ter uma Papoula com estas histórias...
e não é que nossa sintonia é perfeita? Hoje pensei em flar em alimentação.
Papoula,
Brigadeiro de colher eu não garanto, porque não domino a arte. Sempre que tento, acaba pegando no fundo da panela.
Vamos fazer o seguinte: você traz o brigadeiro e ou garanto a melancia. rsrsrsrs.
Super beijo.
Lulu,
Historinha de avó é das melhores coisas do mundo, não é verdade? Eu prometi certa vez a mim mesmo que catalogaria as histórias (verídicas) que minha avó me contava na infância; porém, nunca o fiz. Ela já está bem velhinha e muitas léguas de distância...
Mas não perdi a esperança de cumprir a promessa.
Outra coisa, por mais que saibamos decor o enredo e o final, quando crianças acabamos por vibrar realmente, todas as vezes que ouvimos.
São vários os ingredientes, mas a contadora é o principal deles.
Quanto à melancia... Vai uma fatia aí? (Aliás, como você mesma me informou, já deve ter degustado sua porção matinal, afinal já é hora de café).
Super beijo.
Eliane,
Papoula é uma força da natureza. rsrsrsrs. Sempre inventiva, bem-humorada... Sempre com uma contribuição divertida e leve...
Quanto ao tema "alimentos e afins" já vi o título no seu blog e estou me coçando para ler (só não o fiz em respeito às respostas que preciso postas, mas já estou indo).
Super beijo.
Agnado querido
dei o cano no trampo, na repartição, pra navegar, ler meus amigos poetaços...menino, tempão sem internet, quase morro.
A gente vai ficando DP, Agnaldo.
Me lembrei de quando entrava
cafezal adentro com a molecada e saía roubando melancia, a gente jogava no chão pra abrir e comia com a mão, nunca vou me esquecer.
beijos e alegria lendo sua prosa de melancia!
Neuzza querida,
Salve a forca. Salve o sagrado direito de deixar de lado as obrigações e dar uma passeada pelas roças de melancia.
E que bom que a roça seja minha...
Volte sempre, e pode quebrar quantas melancias quiser.
Super beijo.
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