Não serei aquele que se curvará
Aos formalismos é às modas.
Não serei o que se deixará comer pelo estilo desejado,
Não serei o homem modelo
Ou o homem exemplo do cotidiano.
Não serei limpo nas águas rasas
De tudo o que iguala a espécie.
Não serei melhor que a maioria dos facínoras
Nem pior que a soma de todos os covardes.
Não serei o arauto de causa alguma
Porque a minha causa é minha própria alma.
Não serei aquele que cede o lombo aos arreios
E deixa suas carnes em mãos limpas e afetadas.
Não serei poeta de vossos gostos,
Não escreverei versos para vossos quadros,
Não serei o cronista de vossas manhãs de sol,
Pois minhas manhãs são cinzentas
Sem deixarem de ser belas.
Não serei vosso ídolo,
Nem escravo de vossos vícios.
Serei aquilo que venho sendo
Desde o início,
Um escarnecedor do verso,
Um carniceiro do sentimento bruto,
Um animal erado subindo nas ancas das palavras
Com muita violência,
Suportando seus coices.
Serei um poeta pequeno e mesquinho,
Invejando o cheiro de sexo no poema alheio,
Querendo tê-lo metido no fundo do meu peito,
Em vai-e-vem de prazer e dor.
Serei o homem que devora com volúpia
A carne rosada da poesia
E depois adormece,
Com a boca ainda manchada de seu rubro sangue
E um cigarro apagado no cinzeiro
Do criado-mudo.
E um cigarro apagado no cinzeiro
Do criado-mudo.
[Dos: POEMAS DO ESTOQUE]
8 comentários:
É bem com esses que me identifico.
Adoro sua forma visceral.
Beijo.
Homens exemplos do cotidiano são muito chatos!
Poema forte hoje heim grande Agnaldo?!
Uma terça ótima. Eu me preparo para
sair um pouco daqui desta confusão urbana. beijo
adoro esses poemas-porrada, Agnaldo, que fazem um mapa líquido, brilhante e pegajoso na rota bem comportada da mediocracia
(Mediocracia é título de um poema arretado do Maurício Arruda Mendonça).
Os babacas de plantão, as igrejinhas que escondem a sujeira
sempre debaixo do tapete...fora!
grande beijo e arrepios de prazer, rs
Uauuuuuuuuuuu a coisa hooje tá que tá, vou passando pisando na pontinha dos pés, bemmmmm silenciosaaaaa p não quebrar O CLIMA rs,sr,sr,sr,sr...um dia maravilhosoooooooo e como ontem não passei deixo BEIJINHOS DOCES DIET ainda de S. COSME E S. DAMIÃO!
Inté!
Papoula
Oi Lara,
Não dá para viver de outra maneira senão visceralmente. [Se não for possível nas coisas práticas do cotidiano, que seja ao menos na arte e nos sentimentos].
Super beijo.
Eliane querida,
De fato, as pessoas morninhas (não só os homens) não têm muita graça. A vida é muito curta para desperdiçarmo-na com sentimentos abrandados. A intensidade é fundamental.
Aproveite a fuga da selva urbana e relaxe bastante. Ah, mas não deixe de contar as aventuras no blog.
Super beijo.
Papoulíssima, Papoulérrima,
Não precisa ser cuidadosa, não! Vá entrando, fazendo barulho, soltando fumaça, porque sua presença sempre arrasta consigo uma alegria primordial e um bom-humor inigualável.
Volte batendo panelas e cantarolando, sempre, sempre, sempre.
Ah, e obrigado pelos docinhos. Estou me jujubando neles.
Super beijo.
Neuzza querida,
Você sempre vai ao ponto. Enxerga a cicatriz como ninguém mais. Tem o dom supremo das sacerdotisas de letras, essas sábias que herdaram no DNA uma mística elevada; e por falta dos caldeirões e das poções, você se apossa dos significados, faz com eles elixires de precisão.
...E quando me vi aludido no seu post de hoje, fiquei completamente encantado. A atitude que os versos deflagaram, fazendo-na postar poemas tão descarnados meu envaideceu.
Quiçá consigo algum dia a proeza de ser tão intenso e agudo quanto desejo, quanto é Rodolpho Häsler. Quiçá.
Super beijo.
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