[Em Criciúma-SC.
Imagem: Diogenes - Jules Bastien-Lepage]
ANISTIA
Ao feio.
Encardido nos tecidos de festa
Limo na aura
Ferrugem dos estetas involuídos
Nódoa nas casas calçadas sandálias
Abandonados ao lastimável desuso
Ao vil.
Omisso debaixo das roupas
Camadas e mais camadas chegando a desaparecer
Cânone de insetos rasteiros
Par dos répteis peçonhentos
Amante dos buracos ciscos lugares sombrios
Decorados por fungos e musgo
Ao abjeto.
Suor nas axilas das putas ativas
Manchas amareladas em seus lenços rotos
Calos nos pés coxas seios murchos
Amparados por desbotadas lingeries
Seu sexo insensível
Feito o sexo de uma floresta posta às cinzas
Anistia!
Para que a beleza não se ofenda com sua presença
Anistia!
Que a moralidade não corte rua ao defrontá-lo
Anistia!
Quando o apetite lascivo fraquejar, ceder
Anistia
Ao que fede e ao que sofre
Ao que comete o pecado de resistir
Aos débeis ébrios marginais imundos alcoviteiros
Anistia!
Para que cacos continuem
Ladrilhem
Brilhem a partir do esgoto e iluminem
A face maquiada de todas as virtudes
A face excessivamente maquiada e colorida
De todas as virtudes.
6 comentários:
Um pedacinho de um texto que gosto:
"Vem, me dá tua mão. Não tenhas medo que as pálpebras descidas façam noites escuras e compridas sobre dois viajantes cansados, que lado a lado, em gentes e coisas já pousaram sem ver..."
Uma linda tarde de quinta Agnaldo que vê através dos espelhos e dos poemas!
Anistia, porque tudo no poema cabe; muito o que a vida rejeita, o poeta acolhe.
Beijo.
Eliane,
Versos perfumados esses. Têm perfume de gardênia, de sândalo, de dama-da-noite. Sutil e arrebatador.
Uma linda tarde para você também. Brilhante, azul, mar e céu, de mãos dadas até a noite os acolher.
Super beijo.
Lara,
Acertou em cheio.
Somos guardiões dos restos. Tudo o que aparentemente não serve para nada, serve para a poesia.
Se bem costurado se torna um traje de gala. Não sei bem se fiz tal traje, mas costurei com o que tinha, e com muito cuidado.
Super beijo.
nós, esses seres de carne, arrogância, sonho e pesadelo...às vezes eu me assusto com os meus restos, as unhas cabelos, dores, estralos, dejetos, cheiros...
Você engrandece a nossa pequenez, Agnaldo. Não me sinto anistiada pela minha condição mas me sinto
confortada com a sua poesia.
grande beijo!
Neuzza, Neuzza, Neuzza...
Que seria de nós não fossem nossos restos? Sempre velhos, sempre os mesmos.
Os restos nos renovam. Assustam e renovam. Somos três seres em um. O espólio, o renovado e a soma desses dois.
Você não precisa de anistia. Sua poesia é alforria contra qualquer escravidão.
Super beijo.
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