MUITO ASSUNTO PARA POUCA ÂNIMA
[Tratados filosóficos universais]
Manifestos existencialistas
Impressos em lambe-lambes.
A ciência encontrou a cura
Para a lascívia dos ratos.
A mim, só me comove um chá de hibiscos.
O gosto de língua queimada.
[Evangelhos de religiões vindouras]
Enciclopédias em sânscrito e latim
Alimentam o mofo nas bancas de usado.
O homem não está só na via láctea:
Eis a resposta!
Um chá de hibiscos
E alguns biscoitos de mãe, é o que me basta.
[Incalculáveis dados nos DNAs]
Teoria da evolução
Estagnada desde as Ilhas Galápagos.
A lua poderá ser habitada,
Desde que se lhe invente chuva, atmosfera.
Eu, raso e pálido.
Admiro meu reflexo no fundo da xícara.
[Cartas das modernas navegações]
Atlas do corpo e dos continentes
Apontam para caminhos inexplorados.
Toda a sabedoria converge
Para a completa falta de surpresas.
Indiferente, quero estar quieto.
Tomar o chá com demônios cotidianos.
Muito assunto, muito!
Barulho por demais.
A alma fala pelos cotovelos.
Sirvo o chá e dou-lhe um beijo
Na esperança de que adormeça
Antes de saturar-se.
[Antes de mim].
14 comentários:
Boa Noite Agnaldo!
A chuva chegou!!!!
Lindo os versos, em especial o que diz que: "toda a sabedoria converge para a completa falta de surpresa".
Tudo o que plantamos, um dia teremos que colher...
Quem tiver juizo que faça a sua parte.
Porque... por certo não haverá "chá de hibiscus e biscoitos de mãe" que nos consolarão.
Tenha uma ótima noite.
Lembrou-me um pouco de um poema meu.
Se quiser ler: http://laramaral-teatrodavida.blogspot.com/2010/05/borra-de-cha.html
Claro que não tenho essa sua destreza poética, esse impacto todo que vc nos traz, mas só para te mostrar ;)
Beijo.
Também gostei da poesia... tem dias que me sinto assim também, sabe? Uma tempestade de informações bem embaralhadas e a sensação de que a alma (em mim, animus) vai entrar em loop... rsrsrsrsrsrsrsrsrs...
Aí vai a poesia que lhe prometi, inspirada em Hilda Hilst:
DO DESEJO
(Porque há desejo em mim, é tudo cintilância - Hilda Hilst)
Quando rondas as horas lassas em que na insônia
sombras lascivas envolvem meu ser errante
tu escarneces de minha angústia e de minha ânsia
e me fazes conceber a tua informidade
eu tento te expelir de minhas entranhas torturadas
por meus poros que se esgarçam num gozo extenuado
e que me faz clamar teu nome
ignorado
pois como os deuses não tens nomes, ou tens nomes inominados
como os demônios que transudo em lavas.
E assim te mostras em tuas facetas e em tuas faces
e me rendo atônita ante a tua potestade.
Mas ris do meu espanto e por puro desacato
alucinas na insânia o paraíso desdenhado.
(Lulu, setembro/92)
Beijos, poeta. Bons sonhos... :-)
Oi Vera,
Por aqui só a neblina, só a fumaça, um incessante nevoeiro, mas nada de chuva...
É verdade, tem certas coisas que nem um bom chá consegue resolver rsrsrs. Ainda bem que para outras ele serve de alento.
Aceita uma chávena?
Super beijo.
Lara,
Claro que quis. Fui ler seu poema e me deparei com a velada ameaça dele. É uma invisível faca no pescoço, especialmente os versos finais:
"enquanto a bebida desce me amargando
leio seu destino no fundo da xícara".
Nesse "leio seu destino" se escondem milhares de interpretações, inclusive a ausência de destino, de futuro...
Bom, não vou tentar traduzir teu poema, mas que me pareceu uma ameaça decantada, ah, me pareceu mesmo.
Super beijo.
Lulu, que presente!
Fui e voltei diversas vezes. Bebi e comi cada um dos versos e ainda agora continuam a falar palavras diferentes. Cada vez que entro neles, cada vez que volto meu olhar, têm um segredo novo, uma cor desconhecida.
São versos de plasma. Quentes, intensos, um jogo bem elaborado e sem perde e ganha...
E a imagem dos versos finais é fantástica. Se tivesse de alguma pintura para ilustrá-la eu certamente teria dificuldade de encontrar algo tão belo e tão preciso.
Vou voltar mais vezes a ele. Apreendê-lo, tomá-lo para mim por alguns dias, até estar completamente entranhado.
Lindos versos, lindos.
Super beijo e obrigado.
Obrigada por suas palavras... :-))
Fico feliz que tenha gostado. Tem muita gente que acha minhas poesias muito herméticas, difíceis de serem entendidas...
Você fala em pintura para ilustrá-la; uma vez um amigo virtual, de Lajeado(RS), com quem eu conversava muito há alguns anos atrás (na época do ICQ, lembra desse tempo? Hoje já não tenho mais contato com ele), um grande poeta, me falou que minhas poesias pareciam pintura numa tela... interessante que você tenha feito essa colocação. Coisa de poetas... rsrsrsrsrsrsrsrs
Oportunamente lhe mandarei outras...
Mil beijos, tenha um ótimo dia.
Olá Agnaldo!
Cheguei até aqui via blog da Eliane.
Muito bacana seu espaço.
Parabéns!!!
Vou passar mais por aqui.
abs
Maria "A Carioca" (swing sangue bom, como diria Fernanda Abreu).
Bem-vinda!
Te vi por lá, no blog da Eliane e fico imensamente feliz em tê-la por aqui, me visitando.
Passe, fique sinta-se em casa. Tem sempre um vaso de lavanda para perfumar o ambiente e um chá para os amigos (novos e antigos).
Novamente, bem-vinda.
Super beijo.
Lulu,
Conto os dias para receber outras.
Ah, e sobre o fato de seus versos serem ou não herméticos só tenho uma coisa a dizer: os sentimentos, em geral, são herméticos. Um poema que consiga a proeza de traduzi-los em sua própria linguagem tem valor, tem muito valor.
Super beijo.
Agnaldo, gostei dessa frase: "O homem não está só na via láctea." Acho que estamos no sonho de Deus. Enquanto ele dorme nós vivemos a realidade. Talvez a realidade emprestada como disse nossa amiga Eliane, outro dia no seu blog. É, quem sabe quando Deus acordar, tenhamos todos que voltar para uma realidade esquecida de tanto tempo que vivemos a sonhar pelas vidas emprestadas.
ah, também gostei da frase: "a alma fala pelos cotovelos." É assim mesmo como eu me sinto quando sento na areia da praia para contemplar o mar. Dá vontade de dizer: dá pra fazer silêncio, rsrsrs.
Nossa, fui entrando sem me apresentar. Sou a amiga da Eliane. Gostei das suas poesias.
Beijo.
Cecile,
Não há necessidade de se apresentar, pois já nos conhecemos do Blog de nossa amiga comum. Além do mais, como postei por lá, esse poema foi escrito como forma de dizer à alma: "fique um pouquinho em silêncio observando as coisas miúdas".
É tanta informação, tanta preocupação, carros nas ruas, livros nas prateleiras, compromissos na agenda. Tanto, tanto, tanto, que chegamos a nos esquecer que o silêncio existe e é bom.
Quero apenas tomar um chá.
Aceita uma xícara?
Olha, sinta-se em casa. Como disse também para a Eliane, todos os dias encho-a com vasos de lavanda para deixá-la perfumada, especialmente preparada para as visitas.
Seja bem-vinda.
Super beijo.
Cecile,
Só para dar um sentido de término ao primeiro parágrafo da postagem anterior: ...Esse poema se relaciona diretamente à conversa que tivemos no blog da Eliane através de nossas postagens. Falávamos de algo parecido, por isso as convidei para virem ver.
Super beijo. (Outro).
Caraca! rsrsrsrsrsrsrs... eu pensei que esta fosse uma viagem muito doida minha... mas eu também tenho esse pensamento expresso pela Cecile de que somos um sonho de Deus... ou mesmo o seu pensamento. Acho que Deus nos fez para se conhecer. Há alguns anos atrás, escrevi: "Deus pensa, e eu existo. Somos assim a consciência de Deus, um elo entre o ser e o não-ser" (Lulu, 2002)
A-mei ler o que a Cecile escreveu!!
Mil beijos!
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