CONSULTOR, ESPECIALISTA EM FAXINEIRAS OFERECE SEUS SERVIÇOS
Em tempos de crise, em que o emprego está cada vez mais difícil e - em oposição - a modernidade e a informação possibilitam a invenção das profissões mais curiosas criei, a partir de minha experiência, o posto de “consultor especialista em faxineiras”. Segue meu currículo:
A primeira, ainda em Cuiabá, foi Mirtes. Não era faxineira, só lavava e passava (mas conta como experiência). Depois foi Linda, a troncudinha intrometida, especialista em carne moída com batatas. Durou o tempo do enjôo da comida (teria durado, não tivesse levado um seu amigo para experimentar minha cama – sim, a minha cama. (Infeliz!) - em uma de suas tardes de solidão).
Dona Helena foi a seguinte. Fiz tanta propaganda que foi coopitada por uma colega de trabalho, que se apoderou dela e a transformou em secretária fixa. Paciência. Deve ter sido melhor para ela, já para mim (...).
Lara, a seguinte, (o nome eu não era esse, mas vou chamar de Lara porque combina com larápia) fazia a feira na minha despensa e passeava com meus vale-transportes. A criatura era tão magra, mas tão magra, que se tivesse me pedido eu teria dado a despensa inteira (os vale-transportes não. Eu precisava deles).
Inaugurando o quesito irmãs, Lena, a muda que não era (é, não era muda, mas também não falava. Dá para entender?) e sua irmã Cirleide. A segunda – que falava mais do que fazia - queria ser faxineira de meio período, contudo a diária era inteira. É mole? Acha que eu aguentei? Olha para a minha cara e diz... Lena foi ser fixa. (Me deu um frio na barriga; a moda estava começando a pegar).
Rodaram a irmãs e veio Divina. O nome revela tudo. Ô mulherzinha maravilhosa. Fazia agradinhos caseiros, bolos de caixinha e tal. Se topasse a teria levado comigo para Fortaleza.
Na capital cearense conheci Mônica. Jovem ainda, e muito coerente com aquilo que dizia. Imagine que ela fazia almoço para nós. Quase na hora da fome ela disparava de onde estivesse: “Posso torrar o bife?” Da primeira vez aquilo me soou estranho, mas entendi quando me sentei a mesa. Como expliquei, levava muito a sério suas palavras. Torrar era torrar mesmo, e o tal bife serviria até para sola de sapato ou revestimento de bolsa. (Acho que tinha medo do mal da vaca louca)...
Como o destino me levou rapidamente para outras paragens, aportei em Ribeirão Preto, onde a lista cresceu a valer. Lá veio a segunda leva de irmãs. Dona Edna e sua suplente.
A primeira, faxineira de hotel, registrada em carteira e tudo; era uma máquina. Meu Deus, dava para comer no chão que ela limpava. O único problema é que sua faxina durava quase 22 horas. Dizia assim: “não se preocupe que esse é o meu ritmo”. Caramba, se me descuidasse ela dormiria em casa... Logo se via que um relacionamento pegajoso como aquele não teria bom futuro. Com a suplente foi a mesma coisa. Veio duas ou três vezes, e me abandonou... (Me trocou por uma vassoura qualquer).
Em terras ribeirão-pretanas bati meu recorde. Juntou-se a ela a cunhada do porteiro, metida a celetista, sindicalista, sei lá, com jornada das 8h00 às 17h00, duas horas de almoço e dane-se o resto. (Pois se era justamente para o resto que eu precisava dela)... Aumentando o escrete Dona Maria “quebra vasos”, cuja alcunha justifica a única faxina que me fez; Sônia do Prato (não a apelidei de quebra pratos porque seria injusto com Dona Maria), que com mira certeira me livrou de um antigo prato decorativo do qual gostava às pampas (mais até do que gostei dela); Creuza, Izabel e Beatriz – pareceu-me um complô – que me avisaram por telefone (cada uma em sua emana, é óbvio) que não voltariam, estavam em outra (casa, eu acho)... E assim, sem maiores explicações, deixaram-me com o coração quebrado e, Deus me valha, com os copos e a louça restantes ainda inteiros.
Pensa que acabou? Ainda não!
Com Ana das Dores tive algum sossego, embora ela mesma não tivesse nenhum. Chamei-a de Ana das Dores, porque toda semana ela me aparecia com uma dor diferente. Quase me ofereci para fazer faxina em seu lugar... Sei lá, pensei em ajudar a coitada; sentimento humano, caridade, sabe?
A segunda Izabel, que em nada se parecia à primeira, tentou dar o truque dizendo que tinha proposta melhor etc... Conversa mole, queria inflacionar o preço do serviço... Manteve a mentira e aceitou a proposta que não existia (foi ser fixa na casa dela).
Estava eu novamente na mão (literalmente na mão; mão na pia, no tanque, no ferro de passar). Até que encontrei Rosânea. Outra divina. Cozinhava para gordo nenhum botar defeito. Tão querida que foi promovida a secretária fixa (me vinguei, aderi à moda), permanecendo comigo enquanto estive por aquelas bandas.
Já no Recife a primeira experiência foi aterrorizante. Busquei auxílio num flat (fiz logo a correlação com Ribeirão Preto: faxineira de hotel, profissional etc. etc), mas quê, a mulher era um demônio surrealista. Em um único dia de trabalho conseguiu pintar metade de minhas paredes novas com óleo de peroba. Não acredita? Venha ver, algumas marcas não saíram até hoje.
Dessa trágica experiência voltei para o secretariado fixo, o qual me serviu (assim, assim) durante um ano.
Recentemente tornei ao ramo da faxina semanal através de Mocinha. Boa de fazer gosto. Com essa eu me ajeito, pensei... Nova decepção.
Ligou-me hoje pela manhã dizendo que a patroa - a de um outro serviço - a chamou (em seu dia de folga e meu dia de limpeza) e fez ameaças para que trabalhasse em sua folga. É, ameaça. O negócio aqui é feio... E quem ficou com as vassouras na mão?
Não me dei por vencido. Acionei meu net-work (no caso uma outra moça que presta serviços domésticos no prédio vizinho, a qual tive a sorte de conhecer num passeio de elevador) e já tenho outra engatilhada.
Amanhã vem a Lili.
Ai, Lili, pelo amor de Deus, seja boa, seja fiel. Senão você vai ferrar com meu currículo.
Em tempos de crise, em que o emprego está cada vez mais difícil e - em oposição - a modernidade e a informação possibilitam a invenção das profissões mais curiosas criei, a partir de minha experiência, o posto de “consultor especialista em faxineiras”. Segue meu currículo:
A primeira, ainda em Cuiabá, foi Mirtes. Não era faxineira, só lavava e passava (mas conta como experiência). Depois foi Linda, a troncudinha intrometida, especialista em carne moída com batatas. Durou o tempo do enjôo da comida (teria durado, não tivesse levado um seu amigo para experimentar minha cama – sim, a minha cama. (Infeliz!) - em uma de suas tardes de solidão).
Dona Helena foi a seguinte. Fiz tanta propaganda que foi coopitada por uma colega de trabalho, que se apoderou dela e a transformou em secretária fixa. Paciência. Deve ter sido melhor para ela, já para mim (...).
Lara, a seguinte, (o nome eu não era esse, mas vou chamar de Lara porque combina com larápia) fazia a feira na minha despensa e passeava com meus vale-transportes. A criatura era tão magra, mas tão magra, que se tivesse me pedido eu teria dado a despensa inteira (os vale-transportes não. Eu precisava deles).
Inaugurando o quesito irmãs, Lena, a muda que não era (é, não era muda, mas também não falava. Dá para entender?) e sua irmã Cirleide. A segunda – que falava mais do que fazia - queria ser faxineira de meio período, contudo a diária era inteira. É mole? Acha que eu aguentei? Olha para a minha cara e diz... Lena foi ser fixa. (Me deu um frio na barriga; a moda estava começando a pegar).
Rodaram a irmãs e veio Divina. O nome revela tudo. Ô mulherzinha maravilhosa. Fazia agradinhos caseiros, bolos de caixinha e tal. Se topasse a teria levado comigo para Fortaleza.
Na capital cearense conheci Mônica. Jovem ainda, e muito coerente com aquilo que dizia. Imagine que ela fazia almoço para nós. Quase na hora da fome ela disparava de onde estivesse: “Posso torrar o bife?” Da primeira vez aquilo me soou estranho, mas entendi quando me sentei a mesa. Como expliquei, levava muito a sério suas palavras. Torrar era torrar mesmo, e o tal bife serviria até para sola de sapato ou revestimento de bolsa. (Acho que tinha medo do mal da vaca louca)...
Como o destino me levou rapidamente para outras paragens, aportei em Ribeirão Preto, onde a lista cresceu a valer. Lá veio a segunda leva de irmãs. Dona Edna e sua suplente.
A primeira, faxineira de hotel, registrada em carteira e tudo; era uma máquina. Meu Deus, dava para comer no chão que ela limpava. O único problema é que sua faxina durava quase 22 horas. Dizia assim: “não se preocupe que esse é o meu ritmo”. Caramba, se me descuidasse ela dormiria em casa... Logo se via que um relacionamento pegajoso como aquele não teria bom futuro. Com a suplente foi a mesma coisa. Veio duas ou três vezes, e me abandonou... (Me trocou por uma vassoura qualquer).
Em terras ribeirão-pretanas bati meu recorde. Juntou-se a ela a cunhada do porteiro, metida a celetista, sindicalista, sei lá, com jornada das 8h00 às 17h00, duas horas de almoço e dane-se o resto. (Pois se era justamente para o resto que eu precisava dela)... Aumentando o escrete Dona Maria “quebra vasos”, cuja alcunha justifica a única faxina que me fez; Sônia do Prato (não a apelidei de quebra pratos porque seria injusto com Dona Maria), que com mira certeira me livrou de um antigo prato decorativo do qual gostava às pampas (mais até do que gostei dela); Creuza, Izabel e Beatriz – pareceu-me um complô – que me avisaram por telefone (cada uma em sua emana, é óbvio) que não voltariam, estavam em outra (casa, eu acho)... E assim, sem maiores explicações, deixaram-me com o coração quebrado e, Deus me valha, com os copos e a louça restantes ainda inteiros.
Pensa que acabou? Ainda não!
Com Ana das Dores tive algum sossego, embora ela mesma não tivesse nenhum. Chamei-a de Ana das Dores, porque toda semana ela me aparecia com uma dor diferente. Quase me ofereci para fazer faxina em seu lugar... Sei lá, pensei em ajudar a coitada; sentimento humano, caridade, sabe?
A segunda Izabel, que em nada se parecia à primeira, tentou dar o truque dizendo que tinha proposta melhor etc... Conversa mole, queria inflacionar o preço do serviço... Manteve a mentira e aceitou a proposta que não existia (foi ser fixa na casa dela).
Estava eu novamente na mão (literalmente na mão; mão na pia, no tanque, no ferro de passar). Até que encontrei Rosânea. Outra divina. Cozinhava para gordo nenhum botar defeito. Tão querida que foi promovida a secretária fixa (me vinguei, aderi à moda), permanecendo comigo enquanto estive por aquelas bandas.
Já no Recife a primeira experiência foi aterrorizante. Busquei auxílio num flat (fiz logo a correlação com Ribeirão Preto: faxineira de hotel, profissional etc. etc), mas quê, a mulher era um demônio surrealista. Em um único dia de trabalho conseguiu pintar metade de minhas paredes novas com óleo de peroba. Não acredita? Venha ver, algumas marcas não saíram até hoje.
Dessa trágica experiência voltei para o secretariado fixo, o qual me serviu (assim, assim) durante um ano.
Recentemente tornei ao ramo da faxina semanal através de Mocinha. Boa de fazer gosto. Com essa eu me ajeito, pensei... Nova decepção.
Ligou-me hoje pela manhã dizendo que a patroa - a de um outro serviço - a chamou (em seu dia de folga e meu dia de limpeza) e fez ameaças para que trabalhasse em sua folga. É, ameaça. O negócio aqui é feio... E quem ficou com as vassouras na mão?
Não me dei por vencido. Acionei meu net-work (no caso uma outra moça que presta serviços domésticos no prédio vizinho, a qual tive a sorte de conhecer num passeio de elevador) e já tenho outra engatilhada.
Amanhã vem a Lili.
Ai, Lili, pelo amor de Deus, seja boa, seja fiel. Senão você vai ferrar com meu currículo.
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