CARTA AO SENADO
Senhores Senadores,
A manada está inquieta e já se aglomera próxima à cerca do curral. Está chegando a hora de deixarmos de ser gado e nos tornarmos aquilo que verdadeiramente somos: gente.
Muito embora alguns dos senhores ainda nos considerem reses cativas de seus currais e acreditem que um mísero bocado de ração e um açude de água barrenta sejam suficientes para nos manter de focinhos baixos, dóceis e servis, o gado de vossas excelências foi contaminado pelo vírus da raiva; escuma a boca, range os dentes, bufa e raspa os cascos contra o piso enlameado do mangueiro.
Ao longo dos anos o morcego hematófago nos vem sugando, se alimentando de nossas virtudes, confiança e paciência, entretanto esse mesmo animal – também apelidado de corrupção, desmando, falta de ética e descaso com a coisa pública – conseguiu, por fim, nos infectar irremediavelmente.
Somos um povo pacífico, senhores, por isso mesmo temos sido tomados por ovelhas, por gado manso, descartável, destinado ao abate; contudo não se deve confundir nossa atitude cordata com resignação permanente.
A paz, da qual alguns dos senhores se aproveitam para nos conduzir, feito espectadores silenciosos, ao abate inevitável do caráter, da moral e do respeito, cede seu posto de comando a um outro sentimento igualmente forte: a revolta.
Mas não temam ainda, senhores, porque não haverá um levante de bichos enfurecidos – armas em punho -; o que o Brasil está prestes a testemunhar é o rompimento das coleiras, a destruição das mordaças, a marcha estrondosa dos pés rachados e o som estridente dos mugidos que, de tamanha força, se transformarão naquilo que alguns dos senhores ignoram: voz.
A voz das casas se espalhando pelas ruas, tomando cidades, se alastrando pelo interior do país até os mais remotos confins. Ecoando nos quebra-mares do litoral, na caatinga, nas vidraças dos prédios, nos campos recém-plantados, nas fábricas, nas escolas, nos céus do planalto e, por fim, nas urnas.
Voltem à carta magna. Nela encontrarão o mandamento primordial. “Todo o poder emana do povo e para o povo”. Os senhores não são donos de absolutamente nada a não ser de vossa faculdade de decisão que, como temos observado com grande vergonha, converge inequivocamente para interesses pessoais, partidários, escusos, equivocados e completamente dissociados das necessidades do povo brasileiro.
Não se enganem. A mancha de descrédito que macula todas as instituições públicas, legando a elas a pecha – por vezes injusta - de corruptas e ineficientes, é produto do caldo espesso de acordos, negociatas, manobras e impunidade que vem sendo cozinhado ao longo dos anos com a conivência – ou participação ativa – de muitos dos senhores. Em síntese, vossas atuações contribuem decisivamente para agravar a crise de credibilidade que afoga todo o serviço público do país.
Pesquisem, libertem seus ouvidos para além do séquito que os aplaude. O descrédito é crescente, os discursos não convencem, a suspeição impera e até mesmo aqueles – poucos – cujo comportamento tem se mostrado sério e reto, têm as barras de suas calças enlameadas pela nata de lodo que se eleva.
Observem o burburinho que se estabelece no curral. É gado virando gente, é povo virando cidadão, é cidadão se levantando feito devastadora onda. Somente os que conseguiram ouvi-la antecipadamente sobreviverão a ela.
Findo este preâmbulo, senhores, conclamamos aqueles cuja decência ainda não foi vencida por algum favorecimento ilícito a assumirem seus papéis de verdadeiros representantes do povo e a engrossaram a orquestra das vozes irresignáveis.
Ainda há tempo de dizerem não. Não aos atos secretos, não aos acordos políticos com fins duvidosos, não aos desmandos do poder, não à transformação dos poderes legislativos em ambientes sem leis, não à falta de ética e de decoro, não à proteção recíproca, não ao cenário circense que envergonha a toda a nação.
No dia 7 de setembro, às 17 horas, a manada romperá as cercas do curral e seu estouro será ouvido em todos os cantos do país. Seremos nós – os que alguns ainda consideram massa de manobra – gritando: Basta! Esse será o primeiro passo rumo a um país que mereça seu povo, que seja digno de quem diariamente o constrói.
A sabedoria popular diz que “o povo tem o governo que merece”. Estejam certos, merecemos mais.
Não se calem porque o povo não se calará. Nem agora, tampouco e principalmente nas urnas.
Geraldo Vandré e Theo de Barros escreveram, em idos, negros e turbulentos anos, uma *canção cujas notas sobreviveram ao tempo e ainda servem de aviso: “Porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente”.
Com gente é diferente!
Senhores Senadores,
A manada está inquieta e já se aglomera próxima à cerca do curral. Está chegando a hora de deixarmos de ser gado e nos tornarmos aquilo que verdadeiramente somos: gente.
Muito embora alguns dos senhores ainda nos considerem reses cativas de seus currais e acreditem que um mísero bocado de ração e um açude de água barrenta sejam suficientes para nos manter de focinhos baixos, dóceis e servis, o gado de vossas excelências foi contaminado pelo vírus da raiva; escuma a boca, range os dentes, bufa e raspa os cascos contra o piso enlameado do mangueiro.
Ao longo dos anos o morcego hematófago nos vem sugando, se alimentando de nossas virtudes, confiança e paciência, entretanto esse mesmo animal – também apelidado de corrupção, desmando, falta de ética e descaso com a coisa pública – conseguiu, por fim, nos infectar irremediavelmente.
Somos um povo pacífico, senhores, por isso mesmo temos sido tomados por ovelhas, por gado manso, descartável, destinado ao abate; contudo não se deve confundir nossa atitude cordata com resignação permanente.
A paz, da qual alguns dos senhores se aproveitam para nos conduzir, feito espectadores silenciosos, ao abate inevitável do caráter, da moral e do respeito, cede seu posto de comando a um outro sentimento igualmente forte: a revolta.
Mas não temam ainda, senhores, porque não haverá um levante de bichos enfurecidos – armas em punho -; o que o Brasil está prestes a testemunhar é o rompimento das coleiras, a destruição das mordaças, a marcha estrondosa dos pés rachados e o som estridente dos mugidos que, de tamanha força, se transformarão naquilo que alguns dos senhores ignoram: voz.
A voz das casas se espalhando pelas ruas, tomando cidades, se alastrando pelo interior do país até os mais remotos confins. Ecoando nos quebra-mares do litoral, na caatinga, nas vidraças dos prédios, nos campos recém-plantados, nas fábricas, nas escolas, nos céus do planalto e, por fim, nas urnas.
Voltem à carta magna. Nela encontrarão o mandamento primordial. “Todo o poder emana do povo e para o povo”. Os senhores não são donos de absolutamente nada a não ser de vossa faculdade de decisão que, como temos observado com grande vergonha, converge inequivocamente para interesses pessoais, partidários, escusos, equivocados e completamente dissociados das necessidades do povo brasileiro.
Não se enganem. A mancha de descrédito que macula todas as instituições públicas, legando a elas a pecha – por vezes injusta - de corruptas e ineficientes, é produto do caldo espesso de acordos, negociatas, manobras e impunidade que vem sendo cozinhado ao longo dos anos com a conivência – ou participação ativa – de muitos dos senhores. Em síntese, vossas atuações contribuem decisivamente para agravar a crise de credibilidade que afoga todo o serviço público do país.
Pesquisem, libertem seus ouvidos para além do séquito que os aplaude. O descrédito é crescente, os discursos não convencem, a suspeição impera e até mesmo aqueles – poucos – cujo comportamento tem se mostrado sério e reto, têm as barras de suas calças enlameadas pela nata de lodo que se eleva.
Observem o burburinho que se estabelece no curral. É gado virando gente, é povo virando cidadão, é cidadão se levantando feito devastadora onda. Somente os que conseguiram ouvi-la antecipadamente sobreviverão a ela.
Findo este preâmbulo, senhores, conclamamos aqueles cuja decência ainda não foi vencida por algum favorecimento ilícito a assumirem seus papéis de verdadeiros representantes do povo e a engrossaram a orquestra das vozes irresignáveis.
Ainda há tempo de dizerem não. Não aos atos secretos, não aos acordos políticos com fins duvidosos, não aos desmandos do poder, não à transformação dos poderes legislativos em ambientes sem leis, não à falta de ética e de decoro, não à proteção recíproca, não ao cenário circense que envergonha a toda a nação.
No dia 7 de setembro, às 17 horas, a manada romperá as cercas do curral e seu estouro será ouvido em todos os cantos do país. Seremos nós – os que alguns ainda consideram massa de manobra – gritando: Basta! Esse será o primeiro passo rumo a um país que mereça seu povo, que seja digno de quem diariamente o constrói.
A sabedoria popular diz que “o povo tem o governo que merece”. Estejam certos, merecemos mais.
Não se calem porque o povo não se calará. Nem agora, tampouco e principalmente nas urnas.
Geraldo Vandré e Theo de Barros escreveram, em idos, negros e turbulentos anos, uma *canção cujas notas sobreviveram ao tempo e ainda servem de aviso: “Porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente”.
Com gente é diferente!
(*"Disparada" - De Geraldo Vandré e Theo de Barros)
Um comentário:
tô com saudade dos seus textos... beijo
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