O TANGO
Perdi-me de mim dia desses; a tarde se escorava nas costas dos prédios, escorregando por entre eles e se espichando sobre o mar. Estava na varanda, mas era o mesmo que não estivesse, tão fisgado que fui pelo inusitado. Uma andorinha solitária prenunciava todos os verãos do futuro.
Minúsculo anjo de prata; reluzente se desvendava seu peito branco contra a luz do dia minguante. (Uma ave com peito prateado merece ser comparada a um querubim). Arremetia com força para o muito alto, levando consigo o meu olhar; arremetia e voltava, em rasante de atordoar.
Fiquei nela - sentidos atados; investigava-lhe as manobras na tentativa de entender, compreender mesmo que de passagem as razões de tamanha alegria; já descrente de que alegria e solidão pudessem coexistir.
Depois de algum tempo consegui desvendar-lhe o balé. O motivo era uma mariposa; dançava tango com ela que, desesperada, tentava livrar-se de seu bico. (Um tango... Nenhuma outra canção se prestaria a uma beleza tão urgente, tão avassaladora). A constatação me desanimou...
O anjo argento passou a ser apenas um pássaro faminto. A alegria imotivada nada mais era que fome, que necessidade; a mariposa, não sei.
Findaram num mergulho rumo ao invisível; e para mim a ausência de desfecho. Quisera saber se a fome subjugou a beleza ou se - terminada a dança - entreolharam-se como antigos amantes, cúmplices e exaustos...
Perdi-me de mim dia desses; a tarde se escorava nas costas dos prédios, escorregando por entre eles e se espichando sobre o mar. Estava na varanda, mas era o mesmo que não estivesse, tão fisgado que fui pelo inusitado. Uma andorinha solitária prenunciava todos os verãos do futuro.
Minúsculo anjo de prata; reluzente se desvendava seu peito branco contra a luz do dia minguante. (Uma ave com peito prateado merece ser comparada a um querubim). Arremetia com força para o muito alto, levando consigo o meu olhar; arremetia e voltava, em rasante de atordoar.
Fiquei nela - sentidos atados; investigava-lhe as manobras na tentativa de entender, compreender mesmo que de passagem as razões de tamanha alegria; já descrente de que alegria e solidão pudessem coexistir.
Depois de algum tempo consegui desvendar-lhe o balé. O motivo era uma mariposa; dançava tango com ela que, desesperada, tentava livrar-se de seu bico. (Um tango... Nenhuma outra canção se prestaria a uma beleza tão urgente, tão avassaladora). A constatação me desanimou...
O anjo argento passou a ser apenas um pássaro faminto. A alegria imotivada nada mais era que fome, que necessidade; a mariposa, não sei.
Findaram num mergulho rumo ao invisível; e para mim a ausência de desfecho. Quisera saber se a fome subjugou a beleza ou se - terminada a dança - entreolharam-se como antigos amantes, cúmplices e exaustos...
Um comentário:
que beleza isso, Gui!
ps.: queria bem estar nessa varanda com você! Te amo!
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