PÃO
O fermento biológico fresco, aquele de tabletes, quando misturado ao açúcar se transforma, abandona o aspecto árido e se entrega ao outro elemento, unindo-se a ele de forma a ser impossível separá-los; juntos dão origem a um caldo espesso, que é a base da receita.
A farinha entra em seguida. Deve ser peneirada para evitar que impurezas ou caroços comprometam a massa. Ela se deita sobre o leito líquido de fermento e açúcar e aguarda pacientemente que lhe banhem com um bocadinho de água morna. Água esta que, por sua vez, não pode e nem deve ser agressiva. Não tão quente de forma a escaldar os demais, nem tão fria a ponto de fazê-los se retraírem.
Depois pitadas de sal. Servirão para equilibrar a doçura e realçar seu encanto. Quando se pretende uma receita salgada, acrescenta-se um pouquinho mais, mas sem abandonar o açúcar inicial.
Por fim um fio de bom azeite. Um cordão de ouro derramado sobre a face alva da farinha; e então as mãos. No princípio movimentos delicados, até que tudo se una, se habitue, que todos os elementos se entreguem uns para os outros.
E quando se obtém uma massa homogênea é que o trabalho realmente começa. A sova, a força do rolo, do cilindro, a pressão e o peso empregados para comprimir a frágil e delicada mistura... A não mais poder se deve forçar, porque a compressão fortalece o composto, alisa a massa e a deixa pronta para ser modelada.
Uma vez que se a modele, bastar conservá-la em ambiente fechado, preferencialmente abafado, e esperar o que o milagre aconteça. Vai se agigantar e enfrentar o forno até se tornar uma outra coisa, muito distinta de todas as demais que outrora fora...
...Penso que viver é uma grande receita de pão. Com doçura se vai transformando as pedras em substâncias menos densas. A maturidade se encarrega de nos ensinar a peneirar, a aproveitar aquilo que é puro e genuíno e ao mesmo tempo nos apresenta à virtude da temperança. Arrefece o calor intenso da juventude e equilibra o frio excessivo das incertezas.
O sal é o elemento de contraste. As alternâncias entre sorte e revés, alegrias e desventuras. É o que nos mantém despertos e conscientes de que nada existe que seja perene - e caso existisse algo que o fosse, perderia o sentido em si mesmo. Ele nos ensina que somente as dicotomias são capazes de revelar as verdadeiras de existir.
A partir da prensagem das pequenas surpresas, dos riscos, do improviso cotidiano é que se obtém o azeite, combustível e lubrificante, que movimenta o carro dos dias e o impede de ranger, mesmo quando muito carregado.
O restante é o que é. Amassar, sovar, cilindrar, esperar. Dar forma ao que se quer, modelar com as mãos os próprios sonhos e submetê-los a altas temperaturas para que se tornem... Sonhos ou pão.
Quem não sonha jamais será capaz de compreender que, a exemplo da massa, a vida é uma grande mistura; uma mistura de ingredientes, esforço, espera e fogo.
Sonhar é tão importante quanto viver.
(O resto são formalidades; é o que não cresceu e, portanto, não irá ao forno).
O fermento biológico fresco, aquele de tabletes, quando misturado ao açúcar se transforma, abandona o aspecto árido e se entrega ao outro elemento, unindo-se a ele de forma a ser impossível separá-los; juntos dão origem a um caldo espesso, que é a base da receita.
A farinha entra em seguida. Deve ser peneirada para evitar que impurezas ou caroços comprometam a massa. Ela se deita sobre o leito líquido de fermento e açúcar e aguarda pacientemente que lhe banhem com um bocadinho de água morna. Água esta que, por sua vez, não pode e nem deve ser agressiva. Não tão quente de forma a escaldar os demais, nem tão fria a ponto de fazê-los se retraírem.
Depois pitadas de sal. Servirão para equilibrar a doçura e realçar seu encanto. Quando se pretende uma receita salgada, acrescenta-se um pouquinho mais, mas sem abandonar o açúcar inicial.
Por fim um fio de bom azeite. Um cordão de ouro derramado sobre a face alva da farinha; e então as mãos. No princípio movimentos delicados, até que tudo se una, se habitue, que todos os elementos se entreguem uns para os outros.
E quando se obtém uma massa homogênea é que o trabalho realmente começa. A sova, a força do rolo, do cilindro, a pressão e o peso empregados para comprimir a frágil e delicada mistura... A não mais poder se deve forçar, porque a compressão fortalece o composto, alisa a massa e a deixa pronta para ser modelada.
Uma vez que se a modele, bastar conservá-la em ambiente fechado, preferencialmente abafado, e esperar o que o milagre aconteça. Vai se agigantar e enfrentar o forno até se tornar uma outra coisa, muito distinta de todas as demais que outrora fora...
...Penso que viver é uma grande receita de pão. Com doçura se vai transformando as pedras em substâncias menos densas. A maturidade se encarrega de nos ensinar a peneirar, a aproveitar aquilo que é puro e genuíno e ao mesmo tempo nos apresenta à virtude da temperança. Arrefece o calor intenso da juventude e equilibra o frio excessivo das incertezas.
O sal é o elemento de contraste. As alternâncias entre sorte e revés, alegrias e desventuras. É o que nos mantém despertos e conscientes de que nada existe que seja perene - e caso existisse algo que o fosse, perderia o sentido em si mesmo. Ele nos ensina que somente as dicotomias são capazes de revelar as verdadeiras de existir.
A partir da prensagem das pequenas surpresas, dos riscos, do improviso cotidiano é que se obtém o azeite, combustível e lubrificante, que movimenta o carro dos dias e o impede de ranger, mesmo quando muito carregado.
O restante é o que é. Amassar, sovar, cilindrar, esperar. Dar forma ao que se quer, modelar com as mãos os próprios sonhos e submetê-los a altas temperaturas para que se tornem... Sonhos ou pão.
Quem não sonha jamais será capaz de compreender que, a exemplo da massa, a vida é uma grande mistura; uma mistura de ingredientes, esforço, espera e fogo.
Sonhar é tão importante quanto viver.
(O resto são formalidades; é o que não cresceu e, portanto, não irá ao forno).
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