"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

domingo, 25 de outubro de 2009

POEMAS TARDIOS


ARTEMIS

Ela sibila, esguia,
Estridente ente na forquilha
Exala perfumes inexatos
Capazes de arrebatar
Qualquer olfato.

Sulca com os dedos
A morna mata
Plana, rasteira,
Úmida, densa, vegetal.
Carne molhada
Como se houvesse ali
Sido abatida
Uma presa
E ainda arfasse
E ainda respirasse
Com dificuldade.

A lança ponta de unha,
E a caça se atira contra ela
Devorando-a,
Uma, duas lanças
Precipitam a inquieta sensação
Que lhe percorre
Com terrível rapidez
Todas as extremidades,
Todas as cavidades
Todos os poros.
A fera saliva
A presa arfa
A lança morna
É o troféu da caça
Delicadamente fincado
Nela.

Ela grunhe
Ela range os dentes serrados.
Gutural, contraindo-se,
Uma píton em torno da presa,
Língua no céu da boca...
Relaxa, então, exausta.
A outra mão
Que lhe vai alisando,
Acalma os sentidos
Deflorados.
À flor dos pêlos.
A perenidade se lhe vai tomando,
Deitando-se sobre ela
Devagar
E ela dorme
Ainda com os dedos suados.
Saciados.
Saciada.

Um comentário:

Neuzza Pinheiro disse...

Diana caçadora, deusa do absinto, deusa lunar com suas flechas de prata. Vida. Dona dos bosques, a caminhar com seus cães e suas ninfas.
Não há mesmo magia maior que o amor.
Maior ainda são os que falam com tanta beleza a respeito.
Abra as gavetas, estamos sempre aqui te aguardando, poeta.
grande abraço