VISCERAL
De antes de o esqueleto ser concebido,
De ter a alma na bigorna modelada.
De antes que apercebo cada pancada
Tinir pelo cordão do meu umbigo.
Primeiro à fecundação, à placenta
Onde deitaram-se células e o ovo
Se fez. Primeiro, e desde muito novo,
Meu espírito de brasas se alimenta.
De antes da consciência de existir.
De ser. Crescerem-me os cabelos,
De antes disso se apóia em meus cotovelos
Angústia implacável e sem elixir.
Primeiro às vísceras e ao embrião,
Feito um castigo ao erro primordial
É que pressinto o mundo, e visceral
Se desintegra, urgente, o meu coração.
De antes da fúria e da necessidade
Incontrolável de explorar entranhas
Antes da vida, essas vontades estranhas,
Perseguem-me desde a antiguidade.
Primeiro a qualquer outro sentimento,
De antes da ânsia, da polução noturna,
Sangro em fel, uma pungência taciturna,
Hemorragia, incurável ferimento.
Ácido no peito. Rompida a urna.
Ardência que não cessa um só momento.
2 comentários:
Passei para dar um alô, agradecer as postangens incentivadoras e dizer que toda hora que vejo um espelho, lembro do Blog e procuro me ver melhor.
Eliane,
Os "alôs" são sempre muito bem-vindos, quanto aos agradecimentos, são desnecessários.
Vêm do coração os votos e a torcida, e tudo caminha para o melhor, esteja certa.
Já sobre os espelho, me sinto feliz pela referência.
É isso mesmo, são lugares onde enxergamos coisas diferentes sobre nós mesmos. Basta ter um mínimo de atenção para descobrir algo surpreendentemente inédito.
Super beijo e volte sempre.
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