"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

POEMAS RECÉM-NASCIDOS


PRECE APÓCRIFA

Se nada mais valer,
Que a poesia valha.
Que seja um instante
De perigoso esplendor.

Uma criança alvíssima,
De olhos garços,
Colhendo os girassóis
De um campo minado.

Se nada mais houver,
Que haja poesia.
Que se incumba de florescer
No improvável a sua cura.

Que a criança dance
Sobre as minas
E sobreviva ao tiroteio
Da velhice
Com um feixe de girassóis
Entre os bracinhos.

Se nada mais restar,
Que reste a poesia.
Que detenha a mão e a lâmina
No instante final.

Não seja imolada
A inocência.
Isaac,
Salvo de seu pai.

Que não nos esqueçamos,
Nem desertemos de sua causa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Se não houvesse a poesia
pessoas que versificam assim
para mim seria estranho observar o dia
como quem vê além dos olhos que passam rápido
mirando o asfalto.

Beijo, meu caro.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Oi Lara,

A poesia salva. Mesmo quando escraviza. É um remédio amargo que faz a vida mais doce (ou o contrário).

Super beijo.