"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

POEMAS RECÉM-NASCIDOS


TARDES ALADAS

Trêmula ainda
E úmida
E morna.
A mão.

Sobre elas o silêncio carmim
Entre eles desterros violáceos
Acima de todos
Nuvens letais
Atravessando-os.

[Vagava a tarde
À beira de se perder].

Pássaros negros em festa
De carniça
Bicavam-na.

Tudo se foi recolhendo.

O suor das mãos
O silêncio das horas
O desterro inominável.

As nuvens também.

Restaram apenas os pássaros
Que na carcaça da tarde
Se fartavam

Comeram
Tornaram-se.

Tardes aladas
Alaranjadas.

Voejando
Para depois do horizonte.


7 comentários:

Lulu disse...

Tardes aladas/alaranjadas/voejando para além do horizonte. Belíssima imagem!
Uma tarde de outono também me inspirou uma poesia. Transcrevo-a para você (de poeta para poeta):

OUTONAL

Emergi dos meus porões em busca do teu canto
a tua voz, peregrino, é terna como o ciciar
das folhas imoladas ao vento que passa
e me alicia a alma.

Venho em busca do teu vulto, doce viageiro
sigo o teu canto

que me aquece a alma como o leve bafejar
das tardes outoniças.

Te busco e tua voz é um apelo
mas não te vejo
o teu caminho é sem rastros

se és miragem, que me arranca a alma
e passeia em meu corpo na calidez do vento?

Quem sussurra aos meus ouvidos tão loucas delícias
me afaga os cabelos

quem me toma o ar e me arrepia as tetas

desliza em meu ventre

me banha em gozos
e me toma inteira?

Sigo o teu poente, peregrino
na tarde que se vai

ávida por teu amor

vagando nesta busca infinita
desnuda como as árvores outonais.

Lulu/91

O meu verso "Sigo o teu poente, peregrino/na tarde que se vai" não tem um pouco a ver com o seu "Tardes aladas/alaranjadas/voejando para além do horizonte"?

Beijos! :-))

Anônimo disse...

Voejando por tardes alaranjadas é que me perco, e me achei aqui contigo =).

Beijo, bom feriado.

Eliane Furtado disse...

Ainda estou trêmula, exausta , um pós opratório delicado. Mas foi bom passar por aqui nesta madrugada e ver que o amigo fêz brilhar ainda mais sua imagem atráves dos espelhos.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Oi Lulu,

Tem toda razão, existem semelhanças entre as imagens, muito embora seu poema seja lírico e sensual ao mesmo tempo.

É forte sem ser, entende? Melhor, é forte e macio, é sensual como uma árvore se despindo lentamente e se entregando ao morno vento.

Que bom que tenha dividido comigo.

Super beijo.

P.S. Desculpe a demora na resposta; é que ontem me dei feriado rsrsrsrs.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Lara,

Olha, isso me deixa mais que orgulhoso! Encontrar uma poeta que se encontrou em meu espelho, é maravilhoso.

Encontre-se aqui o quanto quiser (ou perca-se, se achar melhor).

Super beijo.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Eliane querida,

Aproveitei sua breve ausência e limpei a casa, pintei paredes, caiei portões, dependurei bouganviles na entrada e fiz caminhos de pedrinhas brancas.

Dependurei vasos de lavanda ainda à entrada, para perfumar também os portais...

E tudo isso porque sabia que você viria...

Feliz, feliz, feliz de tudo... Pela deferência, por ter se lembrado de mim nesse momento de desconforto e por ter me chamado de amigo.

Ganhei o dia...

Super beijo.

Eliane Furtado disse...

Não esqueço dos que me cercam de doces palavras. Sempre estarei por aqui. Sempre. em pensamento todos os dias...
Ah lavandas...