L’AURORA
Eros Ramazzotti escreveu uma belíssima canção, para a qual Zizi Possi emprestou alma e paixão. A canção se chama “L’Aurora”, e durante muito tempo meu despertador matinal, minha aurora, foram as notas dessa música.
Ela me cava, se vai escorrendo por minhas veias feito um alucinógeno e me enche de melancolia. Num dos trechos (em tradução livre) diz o seguinte: “Aquilo que mora no fundo do coração não morre jamais.Se uma vez você acreditou, vai acreditar de novo. Se uma vez você acreditou de verdade, como eu acreditei, será, será a aurora”.
Antes de conhecer a tradução eu não entendia a razão de tanta melancolia, de tanta saudade; não conseguia atinar para as reminiscências nem lhes dar um corpo, uma forma ou um tempo. Hoje a compreendo claramente e ela me fala de minhas raízes, daquilo que sou por força dos genes, do amor e da família.
Fala-me de uma Itália que não conheço, mas que minha nona trouxe consigo quando de lá escapou da fome, imigrando, como muitos o fizeram, para se reconstruir no novo mundo e nele plantar seus sonhos desesperados.
Faz-me lembrar dessa velha nona em volta do fogão de lenha, fazendo requeijão caseiro e me deixando a panela de ferro cheinha de raspas crocantes para eu me deliciar; e do dia em que ela se foi, mesmo dia em que meu pai chorou feito criança, sentado no chão vermelho do alpendre, inconsolável, completamente desprotegido, completamente órfão.
Nem tudo o que se passa com nossa alma cabe em palavras, tampouco a saudade que carregamos cabe em imagens. A saudade é uma fotografia imprecisa, desbotada pelo tempo, mas nítida no íntimo de quem a carrega. Não carece de nada, apenas do papel amarelado onde, um dia, a vida reluziu, brilhou feito a aurora.
Melancolia e saudade não rimam com tristeza, e justamente por esse motivo é que a música não me dói; ela é doce por me permitir ultrapassar o véu dos anos e retornar, sempre que desejo, ao ponto onde tudo começou, ao sentimento original.
“Aquilo que mora no fundo do coração não morre jamais”. Eu acredito, acredito de verdade. É por isso que, por mais distante que esteja, minha alma permanece sentada no chão do alpendre, ao lado de meu pai, consolando-o, ainda que sem dizer uma única palavra.
Eros Ramazzotti escreveu uma belíssima canção, para a qual Zizi Possi emprestou alma e paixão. A canção se chama “L’Aurora”, e durante muito tempo meu despertador matinal, minha aurora, foram as notas dessa música.
Ela me cava, se vai escorrendo por minhas veias feito um alucinógeno e me enche de melancolia. Num dos trechos (em tradução livre) diz o seguinte: “Aquilo que mora no fundo do coração não morre jamais.Se uma vez você acreditou, vai acreditar de novo. Se uma vez você acreditou de verdade, como eu acreditei, será, será a aurora”.
Antes de conhecer a tradução eu não entendia a razão de tanta melancolia, de tanta saudade; não conseguia atinar para as reminiscências nem lhes dar um corpo, uma forma ou um tempo. Hoje a compreendo claramente e ela me fala de minhas raízes, daquilo que sou por força dos genes, do amor e da família.
Fala-me de uma Itália que não conheço, mas que minha nona trouxe consigo quando de lá escapou da fome, imigrando, como muitos o fizeram, para se reconstruir no novo mundo e nele plantar seus sonhos desesperados.
Faz-me lembrar dessa velha nona em volta do fogão de lenha, fazendo requeijão caseiro e me deixando a panela de ferro cheinha de raspas crocantes para eu me deliciar; e do dia em que ela se foi, mesmo dia em que meu pai chorou feito criança, sentado no chão vermelho do alpendre, inconsolável, completamente desprotegido, completamente órfão.
Nem tudo o que se passa com nossa alma cabe em palavras, tampouco a saudade que carregamos cabe em imagens. A saudade é uma fotografia imprecisa, desbotada pelo tempo, mas nítida no íntimo de quem a carrega. Não carece de nada, apenas do papel amarelado onde, um dia, a vida reluziu, brilhou feito a aurora.
Melancolia e saudade não rimam com tristeza, e justamente por esse motivo é que a música não me dói; ela é doce por me permitir ultrapassar o véu dos anos e retornar, sempre que desejo, ao ponto onde tudo começou, ao sentimento original.
“Aquilo que mora no fundo do coração não morre jamais”. Eu acredito, acredito de verdade. É por isso que, por mais distante que esteja, minha alma permanece sentada no chão do alpendre, ao lado de meu pai, consolando-o, ainda que sem dizer uma única palavra.
2 comentários:
passo por aqui com meu spirituals
e saio carregada dos seus
abraços
Bem-vinda.
Obrigado pela visita e sinta-se em casa para voltar quando quiser.
Ah, também sou um "habituée" de seu blog. (Bebo o orvalho na fonte).
Grande abraço.
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