"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

domingo, 25 de julho de 2010

CANÇÃO PARA MINHA MÃE
(ou: gramática de ninar)

Pretérito
Perfeito como um verbo
Transformado em rosas.

Minha mãe!
Sinto o gosto do teu leite
Na boca
Da manhã.

O teu beijo
Em minha face
Fez crescer
Barba, bigode, saudade.
O anel
Que tu me deste
Era vime.
Teus dedos nos meus
Anelados
E o meu umbigo
No teu útero
Permanentemente.

Sujeito
Oculto feito um verso
Criado no colo.

Minha mãe!
O cheiro do teu cabelo
Minhas angústias
Amansa.

Os teus olhos
Nos meus olhos
Desabrocham
Begônias, estrelas, lágrimas.
O amor
Que tu me tinhas
Era fruto.
Bendito é o fruto
Do vosso ventre:
Menino teimoso,
Homem vincado, canhoto,
Envelhecendo até ser capaz
De desnascer.



(Coincidência ou não, minha mãe acabou de me ligar... Matar um pouco a saudade).


3 comentários:

Ana Lucia Franco disse...

Olá Agnaldo, muito por acaso, deparo-me com teu blog e encontro ótimas poesias. Bom demais.

bjs.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Ana,

Que bom que o acaso existe. (E as coincidências também, pois acabei de te enviar uma mensagem de boas-vindas).
Espero sinceramente que, ao olhar no espelho, encontre o próprio reflexo (ou outro, desde que seja o que procura).
Sinta-se em casa.
Super abraço.

Neuzza Pinheiro disse...

poemas assim são rituais, vão se espalhando como sinais de fumaça Agnaldo, as estrelas escutam e
aparecem

bjs, poeta!