CANÇÃO PARA MINHA MÃE
(ou: gramática de ninar)
Pretérito
Perfeito como um verbo
Transformado em rosas.
Minha mãe!
Sinto o gosto do teu leite
Na boca
Da manhã.
O teu beijo
Em minha face
Fez crescer
Barba, bigode, saudade.
O anel
Que tu me deste
Era vime.
Teus dedos nos meus
Anelados
E o meu umbigo
No teu útero
Permanentemente.
Sujeito
Oculto feito um verso
Criado no colo.
Minha mãe!
O cheiro do teu cabelo
Minhas angústias
Amansa.
Os teus olhos
Nos meus olhos
Desabrocham
Begônias, estrelas, lágrimas.
O amor
Que tu me tinhas
Era fruto.
Bendito é o fruto
Do vosso ventre:
Menino teimoso,
Homem vincado, canhoto,
Envelhecendo até ser capaz
De desnascer.
(Coincidência ou não, minha mãe acabou de me ligar... Matar um pouco a saudade).
3 comentários:
Olá Agnaldo, muito por acaso, deparo-me com teu blog e encontro ótimas poesias. Bom demais.
bjs.
Ana,
Que bom que o acaso existe. (E as coincidências também, pois acabei de te enviar uma mensagem de boas-vindas).
Espero sinceramente que, ao olhar no espelho, encontre o próprio reflexo (ou outro, desde que seja o que procura).
Sinta-se em casa.
Super abraço.
poemas assim são rituais, vão se espalhando como sinais de fumaça Agnaldo, as estrelas escutam e
aparecem
bjs, poeta!
Postar um comentário