SUAVE Nº 1
A vela crepita, a formiga escala o azulejo,
Corre atrás de outra – à frente de uma, corre,
Invade a alma uma quietude que escorre
Qual escorresse na boca antigo pedaço de beijo.
E corre a formiga, escala o azulejo.
Sempre formiga; e sempre alma a escorrer,
Sempre cheia, sempre à mercê, sempre à borda,
Na alma o açúcar que a toda formiga acorda
Em toda formiga o impulso que a faz a correr.
E corre a formiga, escala o azulejo.
Pára ante o ladrilho e observa – uma criança –
Desliza o dedo gordo contra a parede lisa,
Fosse no chão o caminho – onde se pisa –
Não tentaria com o longo dedo que as alcança.
E foge a formiga, escala o azulejo.
A manhã se deita, a formiga escala o azulejo,
Consome-se em olor de bruma arrefecida,
Rompe a garganta estridente gosto de bebida,
Só comparado ao gosto do inconcebível desejo.
E corre a formiga, escala o azulejo.
E ao refletir da vela contra os olhos infantes,
Com os dedos gordos queimados de parafina,
Desliza sobre o azulejo a chama e o ilumina,
Acendendo-a por detrás, cercando-a mais adiante
E a formiga já não corre – morre! Escalando o azulejo.
(Trata-se de um poema antigo, meados do ano 2000, ainda sob o escaldante calor de Cuiabá).
Um comentário:
salve, poeta!
fico grata pelo olhar
sempre tão atento e sensibilíssimo
À noite virei, acompanhar sua viagem pelo "azulejo"
O azulejo
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