[Imagem: Wrestlers -Thomas Eakins
Vídeo: A tanto duol - Do filme: O mestre da música]
Nos tendões resilientes se adensa a gravidade;
Para baixo, maças e alteres e âncoras arrastam.
Fibra após fibra arqueia a superfície da atmosfera
Em órbitas geocêntricas de se autoconsumirem.
Pisasse em gigantesco platô de puro mármore o marcaria
Com exuberantes pegadas; faria, de rastros, um desenho
Que em linha reta seria capaz de parecer com um alinhavo,
Delicadamente bordado na bainha pedregosa.
Mas o mármore deu lugar ao charco, assim como o platô,
Que fez-se, de acanhamento por tanta densidade, rente ao chão.
Atração magnífica que a terra exerce sobre os corpos,
Essa que traz o universo e o dependura na ossatura,
Fazendo rangerem alto as articulações, comprimirem-se os nervos.
Atração que impede a água de flutuar, os homens de serem vento.
Há dias em que a Via-Láctea ancora na planta dos pés,
Grativam, o ânimo e a determinação, próximos a buracos-negros.
Há dias em que a pele transpira correntes, e os cabelos,
Lisos ou em anéis, ganham matéria de lingotes ou de dormentes.
Há dias em que a massa orgânica cede ao assédio mineral
Para dar conta do peso que se lhe avoluma; cede ao bronze, ao granito.
Convergem do imo ondas de magma, nuvens de cinza radioativas.
Nesses dias se conhece de que substância é feito o homem,
E se separa, pela ação voraz dos elementos, os que derretem
Dos que se permanecem intactos – colossos metálicos,
Concebidos na forja das vicissitudes, de estar vivo e de pé.
Nesses dias carvão vira diamante. (Ou é absorvido pelas profundezas).
[Dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]
8 comentários:
Uau! E eu querendo saber do que sou feita... lendo isso, tudo vira anti-matéria.
Perfeito!
Beijo.
Maravilha, meu querido Agnaldo!
Maravilha!
Você não imagina a honra que me dá, ao dizer que nossos poemas dialogam...
É extraordinária a força de seus versos!
São de uma beleza ímpar.
A despeito do peso do especial tema, as palavra flutuam...
Grata, amigo, por mais esta oportunidade de excelente leitura!
Imenso abraço!
Achei bonito também vc falar que os poemas de Zelia e os seus dialogam. Vi lá no blog dela.
Apesar de fazer poesia e lindos versos, também acho que nosso dialógo é mágico.
Estou de volta. E daqui a pouco vou de novo. Mas não esqueço meus parceiros. É a trégua de dezembro!
Lara,
Anti-matéria, matéria-prima... Somos feitos de várias coisas, mas nenhuma delas nos define tão bem quanto a ausência de todas... A anti-matéria.
Super beijo.
Zélia querida,
Os diálogos acontecem independentemente de nossos planos. Parece que os poemas combinam entre si e quando menos esperamos eles se entendem, falam, se completam...
Flutuam, flutuam mesmo... Você tem razão...
Super beijo.
Eliane querida,
O diálogo, em verso ou prosa, vai estreitando a intimidade da alma...
Que bom que você volta, sempre volta... E eu sempre a espero, ansiosamente.
Super beijo.
Via-Láctea ancorada na planta dos pés...
somos assim, tragicamente matéria
finita, inventores de outras leis
a nos manter seguindo até virar estrela, voltar ao eterno.
Poeta, poeta, te ler é uma grandeza.
Neuzza querida,
Olha, faço minhas suas palavras e afianço novamente o que sempre digo: "te ler também é uma grandeza!"
(Estamos, então, empatados. Que bom que seja assim).
Super beijo.
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