"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

domingo, 4 de março de 2012

LIBERTAS



[Imagem: Orpheus - Franz von Stuck
Vídeo: Poema - Ney Matogrosso]

Mesmo as pedras, que de tão imóveis lacrimejam musgo -
Lamentos pela liberdade que não têm -
Sabem e pensam e aspiram asas;
E se pudessem seriam igualmente aladas, ainda que não se elevassem.

Uma pedra de beira-mar é capaz de contar todo o oceano
Em um único verso. Um verso de vai-e-vem.
Uma pedra de penhasco contaria o vento, em assovios.

Desde a primeira idade, quando sente o assombro de si, por existir,
O ser humano realiza asas, espaço e desprendimento.
Todo homem nasce pássaro, nasce céu, só depois é que encarnece.
A gravidade se incumbe do voo; as penas, por penas se dão.

Faculdade amorfa, ânima cujo tênue esqueleto a ninguém se molda.
Pomba invisível arrulhando sobre as cabeças, cagando esperanças.

Liberdade.

Todo homem nasce livre e nu - envolto em sangue.
Todo o resto o engaiola.

[Dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]


2 comentários:

Anônimo disse...

O lance das pedras no seu poema me fez lembrar do meu ídolo Raulzito: "aprendi o segredo da vida vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar".

Beijo!

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Lara, querida,

Boa lembrança... O "evento" e a coincidência não foram propositais, mas sua interpretação intertextual é boa, muito boa mesmo.

Super beijo.