"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

terça-feira, 21 de setembro de 2010

INDECISÃO PRECISA


[Imagem: Nude warrior with a spear - 
Tréodore Géricault]

Como um galo de cumeeira
Antes da alvorada.
Desfolha os olhos sobre a partitura nébula,
Realiza planos verticais;
Ele, homem para-raios,
Delgado, canta
Para cima e para baixo.

Como um gato de laje
Em precípua jornada.
Explora a borda à cata da paisagem,
Desfila destrezas e equilíbrios;
Ele, homem-pêndulo
Oscila. Deriva
Da altura e da profundidade.

Como um arcano de almádena
Apartado do ancestral baralho.
Acolhe a dúvida como parte do presságio.
Desatemoriza-se, telha a telha;
Ele, homem do telhado
Cimo. Indeciso.
Não sabe se pula ou voa

Deixa ao espaço
A escolha.


[Dos: POEMAS RECÉM-NASCIDOS]

4 comentários:

Neuzza Pinheiro disse...

o homem-pêndulo, o homem para-raios
desfolhando os olhos sobre a partitura indevassável da Existência...o homem despido de todos os adereços, o homem na sua interminável e dolorosa solidão...
ele me parece buscar uma outra dimensãom bem além do além

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Neuzza querida,

"To be or not to be, that´s the question", já dizia o velho Willian, numa clara referência à sua desconfiança quanto às razões da existência.

O homem do telhado padece de um titubeio essencial. Não sabe se pula ou se voa e, talvez por isso, não escolhe. Recolhe-se em repetitivo movimento pendular.

Creio que, em algum momento, somos todos pêndulos e estamos de pé, no alto do mesmo telhado.

Super beijo.

Anônimo disse...

O homem, qualquer objeto se torna, na dúvida, ao se entregar ao léu do tempo.

Perfeito!

Beijo.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Lara,

O homem é esse bicho que, na dúvida, deixa que o destino decida. E o destino decide, inevitavelmente.

Super beijo.