Acho que sou rebuscado. Dizem que sou. Isso na escrita, no jeito de enfileirar as letrinhas.
Dissessem-me isso há dez anos eu talvez gostasse; aliás, teria gostado muito. Ocorre que na medida da idade (menor a cada dia, como costumo desejar), tenho me esforçado por polir as palavras, limpá-las, dar-lhes um ar de casualidade, como uma calça de sarja cáqui, uma camisa pólo e um mocassim, ou mesmo como uma impecável bacia de ágata (quem não se lembra jamais vai conhecer).
E quando se busca essa abrasão sofrida, quando se tenta retirar delas (das orações) o excesso, e ainda assim o que lhes sobra é puro excesso, dá uma dor do cão.
Porém, não posso negar, na medida que juvenescemos vamos aprendendo analfabetismos novos. Passamos a ter contato com as cavidades secretas de cada frase. Se revelam intimamente de um modo que seja possível apenas para quem as deseja, conhecer-lhes a intimidade. E aí tudo se dana, se confunde.
O que se pretendia simples ganha parecença de enfeite. Colares exagerados... E os olhos deixam de buscar o pau, porque estão muito entretidos com a maquiagem. Ora, mas ainda existe pau. Basta procurar direito, olhar detidamente.
As letras, palavras, as frases têm pau, por mais adornos que carreguem. (São duras).
Travestis de luxo. Lindas, delgadas, provocativas, fascinantes de se ver, mas profundamente assustadoras.
(Ou não!).
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