Conta-se que perguntaram a Michelangelo como era seu processo de trabalho e como havia chegado ao David, ao que ele respondeu que se tratava de um exercício muito simples. Primeiro o bloco de mármore. Desse bloco limitara-se a tirar tudo o que não era David.
Como resultado dessa simplicidade nasceu a célebre e imortal obra que atravessa os séculos e permanece encantando, como se estivesse viva e desafiasse o tempo.
Longe, muito, mas muito longe de querer me assemelhar a ele (nem toda a pretensão do mundo me permitiria isso), limito-me ao processo. É nele que esta crônica se detém.
Pois eu faço o seguinte: pego uma palavra, uma só, ou algumas (por vezes é assim, mas é raro), e sobre ela vou atirando coisas. Costuro, soldo, colo, emendo, aplico... Nasce um Frankenstein.
Para dar-lhe aspecto menos grotesco passo a aplicar, aqui e ali, alguma cor. Letras ocres, acentos avermelhados, pausas brancas, sentenças roxas e, por fim, um ponto final negro-escarlate.
Se a peça resistir a toda a carga que lhe imponho, vive. Se não eu a desmonto e junto as partes em caixas de papelão de água sanitária (daquelas que os supermercados descartam), classificando-as por nível de insignificância, teor de besteira, grau de descartabilidade, inutilidade etc.
Minhas esculturas nascem de processos estéreis e de palavras emendadas. Tentáculos de cefalópodes. Assustadores braços. Vou-os amarrando para que não se tornem maiores que o necessário.
O resto é rebuscamento. Esse pecado, esse castigo do qual não consigo me livrar.
(Ou não quero).
Como resultado dessa simplicidade nasceu a célebre e imortal obra que atravessa os séculos e permanece encantando, como se estivesse viva e desafiasse o tempo.
Longe, muito, mas muito longe de querer me assemelhar a ele (nem toda a pretensão do mundo me permitiria isso), limito-me ao processo. É nele que esta crônica se detém.
Pois eu faço o seguinte: pego uma palavra, uma só, ou algumas (por vezes é assim, mas é raro), e sobre ela vou atirando coisas. Costuro, soldo, colo, emendo, aplico... Nasce um Frankenstein.
Para dar-lhe aspecto menos grotesco passo a aplicar, aqui e ali, alguma cor. Letras ocres, acentos avermelhados, pausas brancas, sentenças roxas e, por fim, um ponto final negro-escarlate.
Se a peça resistir a toda a carga que lhe imponho, vive. Se não eu a desmonto e junto as partes em caixas de papelão de água sanitária (daquelas que os supermercados descartam), classificando-as por nível de insignificância, teor de besteira, grau de descartabilidade, inutilidade etc.
Minhas esculturas nascem de processos estéreis e de palavras emendadas. Tentáculos de cefalópodes. Assustadores braços. Vou-os amarrando para que não se tornem maiores que o necessário.
O resto é rebuscamento. Esse pecado, esse castigo do qual não consigo me livrar.
(Ou não quero).
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