LETARGIA
Corpo estendido, largado de um lado. Vida que se arrastava por debaixo das portas, feito quisesse vazar. Nata de melancolia empoeirando os móveis. Sentiu-se imergindo vagarosamente para dentro (mas, de onde?).
Dormira mal e mal estavam os sentimentos, as vontades, o ânimo e o vigor. Lembrou-se de haver sonhado com pescarias, com boas pescarias em lugares azuis. (O mundo deveria ser um lugar azul. Azul-turquesa).
Depois olhou para os pés e para as mãos. Hastes perpassavam os primeiros, pondo-lhes raízes nas pontas e na base; e galhos brotavam de suas mãos, com folhas amareladas nas pontas deles.
Poderia se tornar uma daquelas encantadoras árvores do hemisfério norte (daquelas cujas belas folhas avermelhadas estendem a beleza até o chão), mas não. Estava se tornando um fícus ou um jequitibá, ou mesmo um jenipapeiro. (E amarelava, desfolhava-se até o fundo, perpetuando ramos, galhos secos e tristes arranhando o teto e espantando os pássaros).
Vegetal. Musgo sobre os galhos-ombros, casca-pele ressequida. Todos os sinais confirmavam definitivamente o que era, o que se tornara.
“Voilá”: um machado serviria. Uma serra, talvez; o machado sem dúvida. Cortaria o tronco da árvore que se tornara; tombaria de encontro ao despertar. O baque faria voar a folha, o musgo restantes. Vestígios que lhe fariam ver: não eram folhas nem musgo. Era caspa, cabelos e pele morta.
Corpo estendido, largado de um lado. Vida que se arrastava por debaixo das portas, feito quisesse vazar. Nata de melancolia empoeirando os móveis. Sentiu-se imergindo vagarosamente para dentro (mas, de onde?).
Dormira mal e mal estavam os sentimentos, as vontades, o ânimo e o vigor. Lembrou-se de haver sonhado com pescarias, com boas pescarias em lugares azuis. (O mundo deveria ser um lugar azul. Azul-turquesa).
Depois olhou para os pés e para as mãos. Hastes perpassavam os primeiros, pondo-lhes raízes nas pontas e na base; e galhos brotavam de suas mãos, com folhas amareladas nas pontas deles.
Poderia se tornar uma daquelas encantadoras árvores do hemisfério norte (daquelas cujas belas folhas avermelhadas estendem a beleza até o chão), mas não. Estava se tornando um fícus ou um jequitibá, ou mesmo um jenipapeiro. (E amarelava, desfolhava-se até o fundo, perpetuando ramos, galhos secos e tristes arranhando o teto e espantando os pássaros).
Vegetal. Musgo sobre os galhos-ombros, casca-pele ressequida. Todos os sinais confirmavam definitivamente o que era, o que se tornara.
“Voilá”: um machado serviria. Uma serra, talvez; o machado sem dúvida. Cortaria o tronco da árvore que se tornara; tombaria de encontro ao despertar. O baque faria voar a folha, o musgo restantes. Vestígios que lhe fariam ver: não eram folhas nem musgo. Era caspa, cabelos e pele morta.
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