MICHAEL, FARAH E PINA.
Uma frase. Tenho tentado cercá-la para não lhe ser injusto nem omitir os méritos de seu autor, contudo minhas pesquisas têm se mostrado infrutíferas. Fico com o pouco que apreendi dela, porque deve dar conta de traduzir o que quero dizer (que me perdoe o autor).
“Não há nada mais triste que uma vida que termina em silêncio, sem que ninguém a assista”.
Ele se tornou um mito. E como é próprio dos mitos, teve uma jornada longa e significativa, em direta oposição à vida, extremamente curta e muito conturbada. Tudo já foi dito sobre Michael Jackson e não serei eu o atrevido que tentará contribuir com algo de novo (aliás, tudo já está exaustivamente repetitivo).
A outra, a pantera, enfrentou sua doença com dignidade até ser vencida por ela. Modelo para as mulheres, fascínio para os homens. Farah Fawcett atravessou décadas arrastando atrás de si o signo da beleza simétrica, mas não serão seus belos olhos ou seus cabelos de ouro que a conduzirá para a imortalidade. Será pela coragem, pela determinação que será lembrada. Para Charlie uma nova missão: encontrar uma substituta para Jill Munroe (embora isso não me pareça possível).
Por último (pela ordem das tragédias) a alemã que reinventou o sentido, a didática, a pedagogia da - a e própria - dança. Desenhava histórias, as contava entre um passo e outro, com a sofisticação que só aqueles que muito entendem de simplicidade conseguem imprimir. Simplicidade sofisticada. Sofisticação simplificada (não há mais como saber). Phillippine era o seu nome, mas o mundo a conhecia como Pina. Pina Bausch.
A frase, aquela exaustivamente buscada, serve para estabelecer contraponto e contrastes. Tão triste quanto o silêncio e a solidão é a exploração desmedida do espólio. A violação do corpo e da alma do morto. Para uns o rápido esquecimento, para outros a exumação pública e a exposição de vícios e fraquezas elementares.
O mundo ainda chora pelo ídolo pop que, segundo se sabe, sedimentou diariamente o próprio caminho para o fim a custa de drogas das mais diversas espécies. (É bem verdade que existem especulações às centenas sobre suas razões e ainda pouca verdade acerca de seus temas finais).
Farah Fawcett, ao contrário, vinha de uma longa cruzada no sentido oposto, manter-se, permanecer, resistir. Pouco se falou, como pouco se fala e em breve nada mais será dito.
E Pina. Sequer esteve próxima de receber cinco minutos de honrarias, se somados todos os canais de televisão. Limitaram-se a ela alguns artigos especializados, mensão nessa ou naquela coluna tida como sofisticada, e o silêncio.
Michael Jackson dominou a cena, pondo ausência e silêncio sobre o túmulo das demais. Seus 51 quilos pesando sobre o mundo inteiro. Mas não foi ele...
É o seguinte: a luta de uma sessentona contra o câncer não vende. Os quarenta anos de revolução no mundo da dança, promovidos por outra septuagenária, proviniente da alemanha, também não vende. O que vende é o cheiro de mistério, as tragédias familiares, a fênix afundada em dívidas tentando se reacender, intrigas envolvendo paternidade duvidosa, mudanças de cor, de rosto, de cabelos. A desgraça, o grotesco definhar de um Peter Pan consumido pelo mito.
Vende. Vende mesmo.
Não fosse pelo respeito à obra eu o estaria odiando, tão figurinha repetida que se tornou. Em vez disso, desconforto e pena. Dele Michael, cuja morte se tornou o maior espetáculo de toda a sua carreira. De Farah, que tombou de pé, sem honrarias posteriores, e de Pina que não chegou a render meia página. O mundo é realmente louco!
Como não quero e nem posso, em nome de meu desconforto e em solidariedade a duas grandes mulheres, desprezar o gigantismo da obra de Jackson, encerro com um desabafo: eu não aguento mais... Parem de repetir essa música. Deixem os mortos em paz... Eu odeio “thriller”.
“Não há nada mais triste que uma vida que termina em silêncio, sem que ninguém a assista”.
Ele se tornou um mito. E como é próprio dos mitos, teve uma jornada longa e significativa, em direta oposição à vida, extremamente curta e muito conturbada. Tudo já foi dito sobre Michael Jackson e não serei eu o atrevido que tentará contribuir com algo de novo (aliás, tudo já está exaustivamente repetitivo).
A outra, a pantera, enfrentou sua doença com dignidade até ser vencida por ela. Modelo para as mulheres, fascínio para os homens. Farah Fawcett atravessou décadas arrastando atrás de si o signo da beleza simétrica, mas não serão seus belos olhos ou seus cabelos de ouro que a conduzirá para a imortalidade. Será pela coragem, pela determinação que será lembrada. Para Charlie uma nova missão: encontrar uma substituta para Jill Munroe (embora isso não me pareça possível).
Por último (pela ordem das tragédias) a alemã que reinventou o sentido, a didática, a pedagogia da - a e própria - dança. Desenhava histórias, as contava entre um passo e outro, com a sofisticação que só aqueles que muito entendem de simplicidade conseguem imprimir. Simplicidade sofisticada. Sofisticação simplificada (não há mais como saber). Phillippine era o seu nome, mas o mundo a conhecia como Pina. Pina Bausch.
A frase, aquela exaustivamente buscada, serve para estabelecer contraponto e contrastes. Tão triste quanto o silêncio e a solidão é a exploração desmedida do espólio. A violação do corpo e da alma do morto. Para uns o rápido esquecimento, para outros a exumação pública e a exposição de vícios e fraquezas elementares.
O mundo ainda chora pelo ídolo pop que, segundo se sabe, sedimentou diariamente o próprio caminho para o fim a custa de drogas das mais diversas espécies. (É bem verdade que existem especulações às centenas sobre suas razões e ainda pouca verdade acerca de seus temas finais).
Farah Fawcett, ao contrário, vinha de uma longa cruzada no sentido oposto, manter-se, permanecer, resistir. Pouco se falou, como pouco se fala e em breve nada mais será dito.
E Pina. Sequer esteve próxima de receber cinco minutos de honrarias, se somados todos os canais de televisão. Limitaram-se a ela alguns artigos especializados, mensão nessa ou naquela coluna tida como sofisticada, e o silêncio.
Michael Jackson dominou a cena, pondo ausência e silêncio sobre o túmulo das demais. Seus 51 quilos pesando sobre o mundo inteiro. Mas não foi ele...
É o seguinte: a luta de uma sessentona contra o câncer não vende. Os quarenta anos de revolução no mundo da dança, promovidos por outra septuagenária, proviniente da alemanha, também não vende. O que vende é o cheiro de mistério, as tragédias familiares, a fênix afundada em dívidas tentando se reacender, intrigas envolvendo paternidade duvidosa, mudanças de cor, de rosto, de cabelos. A desgraça, o grotesco definhar de um Peter Pan consumido pelo mito.
Vende. Vende mesmo.
Não fosse pelo respeito à obra eu o estaria odiando, tão figurinha repetida que se tornou. Em vez disso, desconforto e pena. Dele Michael, cuja morte se tornou o maior espetáculo de toda a sua carreira. De Farah, que tombou de pé, sem honrarias posteriores, e de Pina que não chegou a render meia página. O mundo é realmente louco!
Como não quero e nem posso, em nome de meu desconforto e em solidariedade a duas grandes mulheres, desprezar o gigantismo da obra de Jackson, encerro com um desabafo: eu não aguento mais... Parem de repetir essa música. Deixem os mortos em paz... Eu odeio “thriller”.
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