"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

terça-feira, 4 de agosto de 2009

CRÔNICA DO DIA.


LURDINHA ANOS 70

Parecia uma travesti. Ora, não se trata de uma crítica, ao contrário, para ela o termo assentava como elogio. Isso porque era esguia, exuberante, sempre “vestida para matar”. Unhas e humor no mesmo nível, afiados.

Guarda-roupa vintage, aliás, trintage; desfilava modelitos guardados com esmero desde o fim da era hippie. Dancing days repaginados (graças a Deus sem as polainas) e rico em paetês, verniz, mega-colares e afins.

Intrigava-me. Contudo, era bom estar com ela. Quarentona, corpinho de 38, maturidade de 50 e espírito de 25, total 153 (mas 153 o quê?). Ah, 153 cores de baton, sempre em tons vermelho-escândalo, 153 pares de sapato (todos muito altos, vibrantes, dramáticos), 153 calças coladas com 153 estampas diferentes, além de uns 1153 adereços resgatados do fundo do baú. O conjunto empolgava, dava-lhe certa irreverência.

O desavisado, que passe agora por aqui, e com muita pressa, vai se precipitar ao julgá-la uma alegoria. Que nada! A mulher era uma reinvenção constante. De si mesma, do mundo, do que esperavam dela.

Bonita e exótica cairiam bem. (Os atrevidos diriam tratar-se de uma bicha que deu certo; nasceu mulher!). Eu, humildemente, atribuí a ela um posto mitológico. Ninfa atemporal, impoluta, liberta do alheio. Ensinou-me que o espírito é o guarda-roupa do tempo, que o melhor traje é aquele que te mostra livre, inteiro e vivo; mais parecido com o que - de fato - você é.

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