"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

CRÔNICA DO DIA.


ELA ME PEGOU E ME JOGOU NA CAMA

Ainda estou curtido pelo rescaldo de cansaço da noite passada. (Noite passada em branco, sem pregar o olho).

Mas o que dizer? Fui tomado por ela, dominado de um jeito que jamais pensei. Quando dei por mim estava estirado no colchão, completamente suado, exausto, exaurido até o último poro.

Encontrei-a pela manhã. Estava indo à padaria, comprar o pão para preparar meu café. Chovia um pouco e eu nem percebi, tamanha a pressa. Havia acordado à toda e feito a higiene bucal meio dormindo. Desci ainda quente, sentindo os lençóis atrás de mim como segunda pele. Duzentos metros depois, na porta da padaria, foi quando acordei de vez.

Peguei meus pães e virei no rastro (paguei também, mas isso está implícito), correndo para casa. Rua semidesértica, garoa aumentando a ponto de me esfriar... Eu ofegava. Próximo ao semáforo eu a senti chegando; enquanto esperava o verde ela se encostou em mim; nada disse, nada pediu; foi ficando, me agarrando ali mesmo, apalpando, pegando feito dona.

Depois disso o tempo passou a ser dela, de seus caprichos. Não comi direito, sequer fiz outra coisa que não fosse lhe dar atenção. Ficamos juntos o dia inteiro, mas não foi o bastante para satisfazer sua compulsão, seu voracidade.

À noite ela pulou sobre mim. Torceu meus músculos, me sugou, lambeu minhas energias e depositou brasas sob a minha pele. Dominou meu sono, se apossou de meus sentidos... Faltava-me o ar, falhavam-me as forças, meu suor molhava os travesseiros.

Quando mais lhe dava, mais ela pedia. Exigia. Minha noite entregue a ela. Fui seu escravo.

Acordei – se é que dormi por alguns minutos - com dores por todo o corpo; garganta arranhando. A febre durou até o primeiro comprimido de paracetamol. Olhos ainda ardentes...

Gripe desgraçada.

Hoje eu estou preparado. Trouxe da farmácia munição de matar elefante, e se ela se encostar em mim eu a derrubo, ah se derrubo, assim como ela fez comigo... Pode vir a gripe do frango, do gato, do cachorro, da vaca, do porco... Pode vir a fazenda inteira se quiser... Comigo não! Acaso sou homem de me amarrar? Comigo é uma noite e olhe lá...

O quê? No que é que você estava pensando? (A gente não pode nem ficar doente que o povo já pensa besteira)...

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