"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

VANUSA PARA PUXADORA DE HINO


 [Imagem: Bonaparte Crossing the Alps 
Jacques Louis David]

[A imagem é de mal gosto, o vídeo é de mal gosto. Eu havia jurado que não escreveria novamente sobre política, mas... Enfim, o mal gosto impera.]

A história é a seguinte: o sujeito está com a unha do dedão do pé encravada (pode escolher o pé. Esquerdo ou direto, tanto faz) e resolve embarcar em ônibus abarrotado de gente. O que acontece? Pois é, algumas coisas são inevitáveis, assim como falar de eleição no pós-pleito.

Prometo fazer o possível para correr do óbvio e não ser tendencioso. Prometo!

Começa assim: enfim São Paulo assumiu o que todos os demais Estados já sabiam e não admitiam publicamente. Um palhaço a mais ou a menos faz pouca diferença.

Ironias à parte, a eleição de Francisco Everardo Oliveira Filho foi o acontecimento do fim de semana. Ora, não sabe de quem se trata? Refresco a memória: “Forentina, Forentina, Forentina de Jesus”... Ele mesmo, o “Tiririca”.

O suposto voto de protesto (?) serviu para aumentar a certeza da velha guarda da política nacional acerca do que fazer com a opinião pública. Quem elege “Tiririca” não pode se queixar de ser representado por um palhaço. E se antes já acreditavam nisso, agora...

Mas não riam ainda, queridos cariocas. Antes de fazê-lo lembrem-se do baixinho. É, ele mesmo, “peixe”. Ou será que os gols na campanha do tetra foram suficientes para angariar o perdão eterno para as poucas e boas que arrasta atrás de sua vida pessoal? Mas o cara é craque, fez “p’ra mais de mil gols”. E daí? Se admitirmos que talentos dessa natureza pesem, por que não elegermos a mulher fruta da estação (e olha que uma delas foi candidata)?

Não dá para comparar? Pensem melhor, reflitam e verão que os motivos podem ser diferentes, mas o fiasco é idêntico.

E Brasília? E aquela senhora? Qual é mesmo o nome dela? Ah, é Roriz. Não ganhou, mas foi para o segundo turno. Quer dizer, diplomaram a família. O marido, bom, nem precisa não é! Comentar qualquer coisa é ir de cara no óbvio. E a capital do país dá sua lição de democracia dizendo em alto e bom som “SIM, bate que eu gosto”. Pergunto, se essa criatura semianalfabeta cultural vence as eleições distritais, quem governa? Alguém se arrisca?

E para não ficar marchando exclusivamente sobre a tragédia, temos a honrosa votação da Marina. Atenção, o Acre existe! (E o Acre votou em peso nos outros dois). Mulher com discurso coerente (embora pouco sustentável do ponto de vista das alianças futuras). Fez uma campanha bonita, tranquila e deu uma volta nas intenções de muita gente nessa reta final.

De outro lado, o segundo turno. Para pensar na cama (ou onde quiser):

Os escândalos sucessivos com os quais temos tido contato são novidade ou estão apenas mais visíveis? Em que outro momento de nossa história políticos foram cassados, presos por corrupção e desmandos com a coisa pública? Alguns vão dizer: ah, mas isso aconteceu por intervenção do Ministério Público, por atuação da Justiça etc etc etc. Alôô! E tais poderes, onde estavam nas últimas três décadas? E olha que, se não nos falhe a memória curta, é só procurar um pouquinho, fazer uma tabelinha no excel que é bem possível que a conta de escândalos termine empatada.

Não estou, com isso, querendo dizer que “Dilminha não é comigo” seja melhor que a “versão açucarada do picolé de chuchu” ou vice-versa. Quero apenas trazer a discussão para um patamar de razoabilidade. Existe SIM, um monte de coisa errada, tem sujeira saindo pelo ladrão, tem muita explicação a ser dada, mas, olha, não se espante com o que vou dizer. Isso não é novidade. O que mudou foi a força das alianças, o tamanho do tapete (e a quantidade de lixo que ele suporta esconder). E, claro, a divulgação (graças a Deus).

Agora é escolher e votar. Não existe anjo nem demônio. A farinha pode ter saído de moendas diferentes, mas é farinha. E, por uma coincidência temporal, não estão no mesmo saco, mas é só.

Então, A ou em B. Aperte o verde para confirmar, sabendo de antemão que os precedentes de ambos não os colocam em posição de beatificação. Longe disso.

E, cá entre nós, é fácil dizer que ninguém presta. Anular o voto, se desincumbir ou, pior, votar e passar mais quatro anos reclamando ou criticando.

O exercício pleno da democracia vai além dos 30 segundos de urna eletrônica. Passa pela participação ativa, pelo inconformismo e pela bandeira da “boca no trombone”. Não temos à disposição de nosso voto quem gostaríamos de ter (se é esse o caso), mas não há outro remédio. É o que temos. É escolher entre um e outro e tentar, na medida de nossas possibilidades, fiscalizar, protestar, gritar e tentar contribuir para que as coisas avancem.

Enquanto isso, reflitamos sobre “Tiriricas”, “Peixes”, “mulher sobrenome” e afins. Daqui a quatro anos tem mais... É um bom tempo para pensar.

[Ah, aproveitando que está fácil, proponho a candidatura de Vanusa para puxadora oficial do Hino Nacional]. 

[Das: CRÔNICAS  DO DIA]

5 comentários:

Neuzza Pinheiro disse...

a gente que tudo vai se oxidando,
se desfazendo...essa história tem efeito corrosivo. No dia das eleições eu me andei perdida por aí
Compreendo e concordo com as suas colocações, Agnaldo
afinal, tudo se tornou mesmo uma grande palhaçada.
A cidadania deu seu último suspiro por aqui.

um beijo

Neuzza Pinheiro disse...

eu nem, consigo falar com clareza sobre isso, desculpe.

Eliane Furtado disse...

Agnaldo poeta, anda inovando? Gostei.
Pobre Vanusa.Cai o pano.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Neuzza querida,

Ainda estou digerindo também, mas a poesia me salva. Como tem feito com você (pelo que vi no seu spirituals).

E vamos indo, não é? Que a poesia nos resgate quando estivermos prestes a ceder, e nos salve sempre da enxurrada e dos destroços e do lamaçal.

Super beijo.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Eliane, Eliane, Eliane (três, hoje, percebeu?),

Fui obrigado a voltar a escrever sobre algo que há muito, muito, muito, não fazia. Política.

É que fiquei muito aborrecido com o que assisti no domingo. Foi uma espécie de freak-show que poucos financiaram, mas muitos (nós, inclusive) vão pagar a conta.

O palhaço tiririca foi a gota d'água.

E como diria Chico: ...E qualquer desatenção, faça não! Pode ser a gota d'água.

E foi.

Mas acho que já voltei ao meu estado de normalidade.

Super beijo.