"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

CRÔNICA DO DIA.


O HOMEM DO TELHADO

Vista de cima a casa se mostra uma fronteira. Sobre a cumeeira se equilibra o homem, e de cada lado dessa fronteira se apresentam os territórios. O primeiro, esqueleto de caibros e ripas desnudas, reserva em pontos distintos diversas pilhas de telhas. Oposto a este está o outro, regular e calmo, totalmente protegido pelos pedaços de barro; cobertura que é também roupa, lençol de escamas se estendendo para baixo.

Com o homem parado como está, equilibrando-se bem ao centro, não se pode dizer o que se passa. É apenas um homem sobre um telhado.

A imagem congelada é mesmo um mistério; igualmente, uma ousadia. Mistério que leva à dúvida e ousadia que põe pernas onde respostas não crescem. Desse um passo para um lado, se movesse lentamente no outro sentido, talvez entregasse uma pista, deixasse escapar um sinal. Mas ele é e está parado, e permanece, como também ficará, assistindo - imóvel.

Não se pode dizer-lhe a idade, tampouco ouvir-lhe a voz, pois é seu momento de descanso. E enquanto descansa tudo cessa à sua volta, tudo espera e recua, temendo que caia, sob o golpe do menor movimento.

E então, quem o vir em seu momento paralisado há de carregar no ventre o feto da dúvida - embrião gelado – ou mesmo uma célula de incompreensão, porque um homem estático, firme sobre um telhado, reserva em si um volume muito maior de perguntas que de respostas.

O transeunte que segue. (O tempo se dissolve); aquele jamais descobrirá.

O que faz o homem do telhado? Cobre ou destelha? Constrói ou desmonta? Protege ou revela as estranhas, expõe fragilidades?

Qualquer que seja a resposta (coisa muito íntima) só se revelará no movimento seguinte – irremediável -, quando não mais restarem os meios, tampouco o tempo para detê-lo.

Um comentário:

Cristina Thomé disse...

Não perco um! Fiquei curiosa. beijo. te amo