"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

sábado, 21 de agosto de 2010

POEMAS PERDIDOS NO TEMPO


A FORÇA DA GRAVIDADE

Não passa do chão.
Por mais pesado, o corpo, quando cai,
E mais alta que seja a torre de onde ele se vai,
Quando cai,

Não passa do chão.

O entendimento é a única armadura
Da qual dispõe a vida
Para atravessar searas desfavoráveis
E não se perder entre os espinhos.
Só o entendimento de que
Em algum momento,
O chão.

Depois a ascensão,
Feito um falcão que, acossando a vítima em rasante,
Se desprende da vida em atenção ao instinto
E a retoma no segundo final,
Rente ao chão.

Não passa do chão.
Quem tem coragem de aceitar que o universo,
Antes de se criar,
Explodiu.

Não passa do chão.
A fruta precipitada pela árvore,
A chuva suada pelo céu...
O homem, indistintamente de onde caia
Não passa do chão.

A vida os perpassa.
E mesmo quando o chão enxuga a chuva
E suga a seiva da fruta madura
E ainda quando encobre o homem
E o devora,
A vida os perpassa.
E passa a ser chão
Tudo aquilo
Que do chão não passa.

Tudo o que de chão não passa.


(Trata-se de um poema recifense. Uma reconciliação, depois de longo silêncio).

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