"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

domingo, 22 de agosto de 2010

POEMAS RECÉM-NASCIDOS


PARA DEIXAR DE SER FEROZ

Para deixar de ser feroz
Arranquei todas
As minhas unhas.

Dedilhei a matéria
Com dedos mutilados.
Ela sorriu-me
Constrangida
Por ser acaricida
Na intimidade
Por dedos eunucos.

Para deixar de ser feroz
Castrei meus sentimentos.

Vagueiam,
Noctambulam agora
Esfregando nos móveis
Sua ausência de testículos.

Sem testosterona
Os sentimentos engordam.

São gatos plácidos
De cemitérios
Esperando que um anjo de pedra
Os esmaguem.

Para deixar de ser feroz
Cerrei os dentes.

Em nome de uma paz desesperada
Doei em vida o meu sorriso.

Desmantelei meu arsenal.
Peça por peça destruí minha baioneta
E com sua lâmina
Cortei os pulsos da loucura.

Ofendi a natureza.
Atentei contra a existência dos animais predadores.

Pequei. Pequei.
Para deixar de ser feroz.

Não há clemência para o meu crime.


2 comentários:

Eliane Furtado disse...

Vim buscar meu poema da semana. E garanto que este foi um dos que mais gostei e me identifiquei. Será que é poque sou feroz?
Mas nestes próximos dias precisarei mesmo brigar. Pela vida. Uma ótima semana.

AGNALDO NO ESPELHO disse...

Eliane,

Agarre a vida com garras e dentes. Faça por merecer. Uma boa briga deixa os ossos mais fortes (mesmo que a "cara" saia inchada).
A torcida é grande e os bons pensamentos continuam a orbitá-la.

Quanto ao poema, é preciso ser feroz, para que a vida não nos trate como fracos.

Super beijo.