"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

quinta-feira, 9 de julho de 2009

CRÔNICA DA TARDE.

GAMBÁ

Um gambá assombrava minhas noites ribeirão-pretanas. O condomínio onde morava era bucólico e minha casa dividia muro com a pracinha do local. Bonito de dar gosto, e o bicho também deveria pensar assim.

Boa parte de minhas noites, as que estivesse sozinho em casa, as gastava no quintal. Preparava comidinhas de solidão, tomava gim, bebia saudade e escrevia o que viesse à telha. Não tardava e ele aparecia. Vinha de local ignorado. Não fosse eu o teria visitado e preparado o maior susto.

Pois bem, estivesse eu entretido; pronto. De repente a arruaça na pitangueira. Era ele. Descia pelo muro, alcançava a árvore e dela subia para o telhado, percorrendo-o todo com grande urgência. Sem cerimônias o danado atravessava o caramanchão de madeira e vinha se resfolegar na calha bem acima de minha cabeça. Diabos! Filho da mãe!

Apreensivo. Não que tivesse alguma fobia existencial de gambás, mas aquilo me incomodava à pampa. (Arranhava). Suas unhinhas, o som rascante delas no metal, e ainda os passinhos despreocupados, como se eu não existisse. Convenhamos, aquilo era folga para mais de metro.

A vida é realmente muito engraçada. Lembrar agora desse gambazinho me fez pensar que durante as noites em que fiquei sozinho por lá ele foi minha única visita. Não o tratei como devia. Hoje ele faria a festa, teria de um tudo, ovos goros inclusive (e conversaríamos até o sol, até o sol).

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