"PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO" (Caetano Veloso).

domingo, 5 de julho de 2009

DA SÉRIE: POESIAS INACABADAS.


AS MÃOS VAZIAS

A fadiga me obriga – é minha regra,
Em minha mão, sua intriga – luva negra,
Vem calar-me antes que diga – se esfrega,
Contra a vontade estendida – e me entrega.

Essa proteção de figa – sorte e sega.
A tatear pela vida – segue a cega,
Tanto mais forte que a liga – se apega
Ao meu coche, à minha biga – se integra.

O sono feito de migas – o que me pega,
Cansaço que me fustiga – e desintegra,
Vem a verdade, investiga – se achega,
Excita, bebe, me castiga – mija e rega.

Fantasias, cinta-liga – dama e frega,
Puta velha, boa amiga – persa e grega,
Goza na minha barriga – sou-lhe a lega,
Enterra-se, rapariga – adentra e prega.

A dolência - única triga – vinho, adega,
Veneno, doença, urtiga – ela me enegra,
Toda a pujança abstraída – a que sonega,
Vai-se na terra vertida – ao chão se agrega.




Esse poema tinha tudo para não dar em nada. Gostava dos versos iniciais, contudo não me crescia assunto para lhe dar. Depois fui olhando para ele e ele para mim, tentando descrever os longos períodos em que o nada nos visita e faz companhia.

Por se tratar de um poema da série dos inacabados, nem ouso imaginar como ou por quê começou, apenas o terminei, como dever de ofício.

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